A indicação do BTS ao Grammy celebra muito mais que sua música

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A indicação do BTS ao Grammy celebra muito mais que sua música

Quando foi anunciado que o grupo sul-coreano BTS, o mais popular do mundo atualmente, foi indicado a um Grammy esse ano, mensagens de comemoração apareceram por todas as redes sociais. O grupo havia lançado seu melhor trabalho até agora, e até já havia mencionado uma possível conquista do prêmio no programa The Tonight Show.

Mas ao invés do reconhecimento em uma das quatro grandes categorias, o grupo, composto por RM, SUGA, Jin, J-Hope, Jimin, V e JungKook foram reconhecidos por uma categoria que geralmente não recebe muita atenção: Best Recording Package (os concorrentes a essa categoria incluem Be the Cowboy de Mitski, MassEducation de St. Vincent, The Offering de The Chairman, e Well Kept Thing de Foxhole). Mas o significado dessa honra não deve ser ignorado. A indicação reconhece o meticuloso design do álbum Love Yourself: Tear enquanto uma extensão da capacidade artística do grupo, iluminando uma vital mas raramente discutida tradição na indústria de música da Coreia: arte de álbum.

O site oficial do Grammy descreve os indicados por Best Recording Package como aqueles honrados pela “capa de álbum, arte gráfica e fotografia” de seu trabalho. Boa parte do público familiarizado com Love Yourself 轉 ‘Tear’ talvez não saiba qual a aparência do álbum, mesmo que ele tenha conquistado o primeiro lugar na Billboard 200 chart (sem precedentes para um grupo sul-coreano) em maio de 2018.

Enquanto a arte de um álbum já é considerada uma forma de mídia perdida e arcaica nos Estados Unidos, na Coreia (assim como no Japão, entre outros países) está firme e forte – e manteve as vendas de CD como uma força de mercado. Love Yourself 轉 ‘Tear’ é o segundo álbum da trilogia Love Yourself, que narra a jornada rumo ao amor próprio e aceitação.

Tear é o capítulo mais obscuro da série. O encarte do álbum, feito pela firma de design baseada em Seoul HuskyFox (o co-fundador e diretor criativo Lee Doohee receberá o Grammy no caso de uma vitória), ecoa o clima sombrio e contemplativo do LP. “Um design de álbum deve unir organicamente vários elementos como a imagem do artista e sua visão de mundo”, Lee disse numa entrevista à Yonhap News. “Considerando que os álbuns de BTS contêm um enredo robusto, essa tarefa não é fácil”.

A paleta de cores é de pretos e cinzas, decorados com uma linha holográfica delicadamente desenhada que conecta todas as quatro versões do álbum se colocadas lado a lado. As linhas também são conectada aos dois outros álbuns da série.

Isso mesmo: existem quatro versões de Tear: Y, O, U, e R, mas isso não significa meramente quatro encartes externos diferentes. Cada versão tem sua própria paleta de cores e tema, com diferentes livros de fotos (a versão O mostra os integrantes em preto e branco; R os exibe em roupas simples de jeans), notas que revelam pistas sobre futuros lançamentos, estatuetas e posters. Como bônus, uma foto de um dos sete integrantes é colocada aleatoriamente em cada álbum, adicionando um elemento surpresa a cada unboxing.

“Quando cantores nos Estados Unidos lançam um álbum, o conteúdo principal são as canções que estão no CD”, conta o Dr. Hye Jin Lee, professor-assistente na USC Annenberg School for Communication and Journalism, cujos focos de pesquisa se concentram nos significados da cultura pop. “Mas no K-Pop, que é muito mais orientado pelo visual, tudo é sobre conceito. É sobre o pacote completo, incluindo os visuais. Então, para um álbum, não é só sobre a música – é sobre exibir as ideias e interpretações das músicas, bem como a intenção dos artistas”.

O relacionamento entre BTS e ARMYs (seus fãs) ajudou a propulsionar o grupo e colecionar elogios globalmente, incluindo o Social Artist Award no Billboard Music Awards pelos últimos dois anos, Favorite Social Artist Award nos AMAs, e Best Boy Band no iHeartRadio Music Awards em 2018. Esses prêmios, claro, se unem aos múltiplos prêmios que eles já receberam por sua música na Coreia. Os álbuns são agradecimentos cuidadosamente fabricados. “Você fornece aos fãs um meio de apoiar os artistas”, Jenna Gibson, estudante de doutorado de Ciência Política na Universidade de Chicago e colunista sobre a Coreia no The Diplomat, conta ao Refinery29. “É um lembrete físico da sua existência na comunidade de fãs e de seu apoio”.

Os álbuns lindamente embalados também são um grande negócio. A oferta de diferentes versões faz com que cada uma seja um item de colecionador. Tear possui quatro versões (cada uma custa cerca de US$ 28 no Amazon), mas o grupo de K-Pop NCT, em seu último álbum Regulate tem dez versões diferentes com integrantes distintos do grupo. Os cards aleatórios no interior do álbum são um incentivo extra para se comprar mais. O diretor de arte da Cube Entertainment explicou que a ideia de inclui uma foto a de uma carteira de identidade foi baseada na “ideia de amigos ou amantes trocando e guardando tais fotos nas suas carteiras”.

Em perspectiva, as vendas de CDs caíram quase 20% nos EUA ano passado. Tear, lançado em maio, foi um dos álbuns físicos mais vendidos dos EUA na primeira metade de 2018. Na Coreia, o mercado cresce a cada ano, e dos 20 milhões de álbuns vendidos em 2018, Tear correspondeu a 2 milhões, ou 10%.

Na Coreia ou no Japão, álbuns são frequentemente usados como um bilhete de loteria para um evento de fansign – um meet and greet. Para alguns, isso pode soar semelhante a Reputation Tour de Taylor Swift, que recompensou fãs que compraram seu álbum, reproduziram seus clipes e interagiram com ela nas redes sociais, oferecendo ingressos para seus shows na pré-venda.

Mas comparar essas estratégias de marketing subestima a lealdade recíproca que é o coração pulsante do fandom do K-Pop. “O relacionamento entre os fãs e as celebridades coreanas é muito diferentes do relacionamento das celebridades e fãs dos EUA”, diz Dr. Lee. “Os fãs têm um posicionamento mais carinhoso e familiar com seus ídolos. Eles sentem que precisam fazer mais do que comprar álbuns para os apoiarem. Eles não se importam em fazer trabalho extra ou de graça para os artistas. É por isso que eles compram de 20 a 30 álbuns e não se importam em distribuí-los de graça se isso ajuda os artistas que eles amam”.

Esse tipo de conexão com fãs não é exclusiva à Coreia: torcedores de futebol americano e futebol europeu fazem esforços parecidos para apoiar seus times favoritos (compram produtos oficiais, ingressos, assinaturas de TV à cabo). Mas Gibson considera que o tamanho pequeno do território coreano está mais relacionado a esse vínculo.

“A Coreia é pequena e os eventos de K-pop ocorrem em Seul ou nos seus arredores, então ser uma parte do fandom é literalmente mais próximo de pertencer a uma comunidade do que nos fandoms internacionais”, opina Gibson. “Ter light sticks, ingressos para os shows – essas coisas são lembretes físicos de seu lugar dentro da comunidade, e um jeito de excluir pessoas que não estão preenchendo seu papel como apoiadores”.

Já que os fãs estão prontos para gastar, os artistas precisam produzir algo digno de coleção. No caso de Tear, isso significa um tesouro de trabalho de arte e significados escondidos para os ARMYs solucionarem nas páginas das notas. O álbum Pink Tape do grupo F(x), lançado em 2013, assumia uma forma de fita VHS rosa, e o 1 of 1 do SHINee seguiu a tendência como fita cassete em 2016. O rapper e líder do Big Bang, G-Dragon, decorou seu álbum solo de 2009, Heartbreaker, com um impactante molde de sua cabeça. Com tantos grupos coreanos emergindo a cada ano (só em 2018, já foram 20 novos grupos), é importante se destacar de todos os jeitos possíveis. É só perguntar ao grupo indicado ao Grammy, BTS.

Fonte: Refinery29

Artigos | por em 10/02/2019
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