BTS ‘Love Yourself: Tear’: Por dentro do novo álbum da sensação do K-pop

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BTS ‘Love Yourself: Tear’: Por dentro do novo álbum da sensação do K-pop

O produtor Steve Aoki tem boas memórias do seu primeiro encontro com o grupo de K-pop BTS. “Pegamos uma caixa de som Bluetooth, nos reunimos em volta e só curtimos,” Aoki relembra. “A última vez que vi eles em Los Angeles, eu dei meu moletom para o RM; ele me deu sua jaqueta. Fizemos o ‘salto Aoki’ juntos. De cara, estávamos em sincronia — a barreira da linguagem não nos impediu de nenhuma maneira.”

Aoki tem um papel importante na história do BTS: em 2017, ele produziu o remix cafeinado da música “MIC Drop”, que se tornou o primeiro hit do grupo a entrar no Top 40 dos Estados Unidos. De repente, ouvintes americanos perceberam que um dos grupos mais populares do planeta vinha do outro lado do globo. A indústria musical americana também se deu conta: após Aoki deixar a casa do BTS em Los Angeles, ele encontrou a cantora Halsey à caminho para encontrá-los. E tudo isso aconteceu antes da pré-venda do último álbum do BTS, Love Yourself: Tear, chegar próximo das 1.5 milhões de cópias. Em termos de comparação, um feito notável foi quando a pré-venda de Taylor Swift chegou às 400 mil unidades nos Estados Unidos.

Devido ao fervor da fanbase do BTS — quando apresentou o grupo no Billboard Music Awards, no último domingo, a apresentadora Kelly Clarkson teve dificuldade de se fazer ouvida com os gritos de antecipação da plateia — a gravadora do grupo, Big Hit Entertainment, se mantém discreta sobre suas operações. A Big Hit recusou um pedido de entrevista em razão de “proteger a vida diária de nossos membros da equipe de potenciais incômodos com os fãs.” Talvez isso não seja insensato: “Eu trabalhei com a Beyoncé por dois anos — fui seu engenheiro de som, mixei, e viajei com ela ao redor do mundo — e nunca antes vi um fandom como esse,” conta DJ Swivel, que produziu a música “Euphoria”, lançada em abril, e co-escreveu duas músicas do Love Yourself: Tear.

À medida que o perfil do BTS cresceu, eles passaram a trabalhar com mais pessoas como DJ Swivel, figurões por trás das cenas do pop dos Estados Unidos e Reino Unido. Essas colaborações que ultrapassam oceanos se intensificaram com o álbum de 2016, Wings, que trouxe contribuições de compositores como Tricky Stewart (Beyoncé, Rihanna), Sam Kempner (Emeli Sande, Niall Horan) e Tony Esterley (Sia). Love Yourself: Tear inclui a maior porcentagem de músicas co-escritas por americanos e britânicos — sete das onze faixas — de qualquer um dos projetos do BTS até agora. “Eles vindo e trabalhando com produtores, escritores, mixers, do mercado americano faz parte da sua estratégia de fazer essa mistura acontecer,” diz DJ Swivel.

Falar com alguns desses escritores oferece um vislumbre do processo do BTS. (Ainda que exista um nível de sigilo acerca dessas colaborações, com um dos compositores comentando, “eu sinto que me meteria em um grande problema se lhe contasse muito.”) Enquanto algumas empresas gostam de trazer compositores peritos para maratonas de escrita hiper-produtivas — Jonathan Yip, do grupo The Stereotypes, por exemplo, lembra de escrever quatro músicas por dia durante viagens à Coreia do Sul para a SM Entertainment –, as colaborações com o BTS são, em sua maioria, feitas de forma remota. Às vezes, o grupo obtém instrumentais pré-produzidos, incluindo a batida de Stewart para “BTS Cypher pt. 4” e “Euphoria”, que DJ Swivel escreveu com Candace Sosa. O BTS manteve o instrumental quase intacto, exceto por acrescentar o que ele descreveu como “o vocal ‘hey yah eh yay eh yay’ depois do refrão”.

Para o Love Yourself: Tear, o BTS decidiu mandar ao DJ Swivel faixas que ele usou como base para as melodias vocais. (Isso é chamado de toplining.) Uma das músicas foi “Love Maze”, uma destilação astuta de rap dos anos 90 e R&B. A outra foi “Magic Shop”, que tem uma parte com sintetizador que parece uma clara homenagem aos Chainsmokers. Uma vez que DJ Swivel já havia trabalhado extensivamente com os Chainsmokers no passado, ele foi altamente qualificado a ajudar com esse álbum. Ele entrou no Skype com Sosa e “jogou melodias”; ela deu guias vocais. Algumas das letras em inglês na canção — “So show me/I’ll show you” — foram escritas durante essas sessões de Skype e apareceram na versão final da música. Muitas das outras letras e partes de raps foram reescritas na Coreia do Sul.

Assim como a Big Hit escolheu DJ Swivel para trabalhar numa faixa estilo Chainsmokers, a gravadora entrou em contato com Ali Tamposi para produzir a batida de entonação latina para “Airplane pt. 2”, porque ela já teve sucesso nesse espaço: Tamposi co-escreveu “Havana”, de Camila Cabello. Ela trouxe também colaboradores frequentes como Liza Owen e Roman Campolo. Eles receberam instruções específicas, de acordo com Owen: “BTS queria algo que explicasse sua jornada, vindos do nada e agora voando de país para país.”

Campolo deu as primeiras ideias melódicas para “Airplane pt. 2”. “O BTS é uma fusão de tudo que está acontecendo na música pop americana, e eles trazem porções iguais de entusiasmo para tudo,” ele diz. “As possibilidades como compositor são infinitas.” No fim, os três escritores acabaram com um faixa que dança entre vocais ricos e raps diretos em staccato. “O BTS combinou com cada uma de nossas melodias de forma impecável,” acrescentou Tamposi.

Enquanto o grupo frequentemente mistura toplines diferentes, o processo de mixagem requer mais tempo, e a equipe do BTS envia notas detalhadas para se certificar de que o som está combinando perfeitamente com as suas especificações. “Eu lembro que tiveram vários momentos que estávamos trabalhando em álbuns e eu pensava, ‘esses caras não dormem?’” diz Sam Kempner, que vem mixando a música do grupo com James Reynolds desde 2013. “Nós entregávamos uma mixagem e eles estavam de pé depois de uma hora de sono nos dando pontos para revisar.”

Essa atenção com os detalhes não é surpreendente; os álbuns do BTS são casos complexos. “Eles estão tentando mais do que artistas pop normalmente tentam — é um tanto ambicioso, musicalmente,” diz a cantora e compositora irlandesa Orla Gartland, que ajudou com a melodia de “134340”. O instrumental dessa música inclui passagens de flauta e baixos ágeis que sugerem uma ala aventureira de funk dos anos 70. “Você não escuta instrumentos como esses em pop nesse nível,” acrescenta Gartland. “O BTS faz jogadas corajosas.”

Essas coragem pode estimular os colaboradores do BTS também. Aoki, por exemplo, pode jogar contra o seu time em “The Truth Untold”, a faixa que ele produziu para o Love Yourself: Tear. “Eu fiz uma música totalmente inesperada,” ele diz, com felicidade. “Quando as pessoas ouvem ‘MIC Drop’, elas falam, ‘Ok, é uma batida do Aoki.’ Essa é uma balada; o drop só acontece no final.”

Para um grupo que frequentemente se inclina ao maximalismo, “The Truth Untold” é uma virada e tanto, uma vitrine para vozes nuas no que é, talvez, a música mais sobressalente que o grupo já gravou. “BTS está ganhando força em questões melódicas agora,” diz Tricky Stewart, que envia músicas ao grupo desde 2016, ainda que não tenha ganhado espaço no Love Yourself: Tear. “É mais voltado para o mercado dos Estados Unidos.”

É um fato que ouvintes americanos estão cada vez mais dispostos a se envolver com o BTS. No último dia 21, o grupo ganhou a honra do Top Social Artist no Billboard Music Awards — pelo segundo ano consecutivo — e apresentaram sua nova música “Fake Love”. É uma das conquistas mais impressionantes do BTS, uma faixa que pode, aparentemente, agradar uma vasta coalizão de ouvintes: fãs de “XO Tour Llf3”, de Lil Uzi Vert, ou Dashboard Confessional de meados dos anos 2000, junto com qualquer um que sintonize na rádio para ouvir as melodias açucaradas do Top 40.

Nos Estados Unidos, o vídeo de “Fake Love” é um dos 10 clipes mais populares do YouTube e uma das 30 faixas mais populares do Spotify desde a sexta-feira de seu lançamento. Escrita pelo membro do BTS, RM, junto com o fundador da Big Hit, “Hitman” Bang, e produtor de longa data, Pdogg, parece que esse grupo, ao final de tudo, pode não precisar de escritores americanos para conquistar o pop dos Estados Unidos.


Fonte: Rolling Stone

Artigos | por em 27/05/2018
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