Relatos ao vivo do centro do universo pop: um show do BTS

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Relatos ao vivo do centro do universo pop: um show do BTS

Do lado de fora do Prudential Center em Newark, Nova Jersey, eu pisquei seis ou sete vezes para recuperar minha visão. Você já olhou diretamente para uma lâmpada por muito tempo? Tente encarar 19 mil delas por duas horas e meia. Olhando em volta, muitos [fãs] estão chorando — olhos inchados, lágrimas escorrendo pelo rosto. Há um zumbido em meus ouvidos; me sinto um pouco tonto, o sangue finalmente fluindo do meu cérebro e indo para onde deveria ir. É como se uma bomba de efeito moral houvesse explodido, de novo de novo e de novo. Mas não é uma zona de guerra. É só o ambiente do fim de um show do BTS.

Para quem não sabe, o BTS — também conhecido como Beyond the Scene — é um grupo de K-pop composto por sete rapazes objetivamente bonitos, de 21 a 25 anos: RM (meu favorito, porque “RM” faz referência ao seu antigo nome artístico, Rap Monster, o que é muito legal), Jin, SUGA, J-Hope, Jimin, V e JungKook. Os nomes reais deles — que o público entoa durante as músicas, espontaneamente e em uníssono —, Kim Nam-joon, Kim Seok-jin, Min Yoon-gi, Jung Ho-seok, Park Ji-min, Kim Tae-hyung e Jeon Jung-kook. O BTS não é o primeiro nem o único grupo de K-pop, mas é, de longe, o mais bem-sucedido. O seu currículo é uma lista de “primeiro” e “único” para músicos coreanos: o primeiro artista coreano a ter um certificado de ouro, o único artista coreano a ter um álbum a estrear no primeiro lugar da Billboard 200, o único artista coreano a ganhar um Billboard Music Award. Eles têm 16,5 milhões de seguidores no Twitter; em 2017, a Bloomberg reportou que tweets sobre o grupo foram enviados mais do que qualquer outra celebridade no mundo. O show do dia 6 de outubro no Citi Field, em Nova York — a última parada da parte norte-americana BTS World Tour: Love Yourself e a primeira vez que um artista coreano se apresentou em um estádio dos Estados Unidos — esgotou os ingressos em questão de minutos. O BTS é um fenômeno completo; os Beatles do século 21, inspirando tanta devoção e mania quanto, senão mais.

Um show do BTS não começa quando os sete integrantes do grupo entram no palco — começa, na verdade, duas horas e meia antes disso, quando as portas da arena se abrem. Caminhando para o meu lugar (enquanto outros correm), alguns minutos após o Prudential Center ser aberto, ouvi o som do baixo e o barulho inconfundível de adolescentes gritando. Eles ainda estão fazendo a passagem de som, eu pensei. Isso não faz sentido. Os gritos eram como chamados para os outros fãs, que passaram voando pelos vendedores de lanches e produtos oficiais com urgência, seguindo o som para dentro da arena. Chegando na Seção 109, o que vi foi diferente de tudo que já tinha visto antes: fãs lotaram a pista geral e se aglomeraram em volta do palco vazio para assistir às duas gigantescas telas que transmitiam vídeos do BTS. Cada vez que um dos integrantes aparecia pela primeira vez, mais gritos. A recepção mais alta foi dada quando o comercial que o BTS gravou para o LG G7 ThinQ Boombox Speaker apareceu.

Continuou assim por quase três horas, os fãs nunca perdendo o entusiasmo ou a vontade de destruir suas cordas vocais. “Eu me juntaria ao coral de novo se pudéssemos fazer uma dessas músicas,” um garoto adolescente sentado atrás de mim falou energicamente para suas amigas.

Essa foi minha introdução ao BTS ARMY, os fãs extremamente vigilantes do BTS. Eles são a força vital do grupo, a razão pela qual o BTS ganhou o prêmio Top Social Artist por dois anos seguidos no BBMAs; a razão porque o BTS é capaz de atravessar barreiras com mais sucesso que qualquer outro artista coreano antes deles. Os fãs são dedicados, e eles são muitos. Não é difícil de perceber que os ARMYs são uma comunidade em si, que existe na vida real e online e provêm um senso de conexão para um grupo de pessoas — em sua maioria, adolescentes — que podem ter dificuldades para encontrar uma comunidade por meios mais tradicionais. Os ARMYs são um corpo inclusivo, sendo a única exigência para fazer parte dele apoiar — e, também, defender — o BTS.

A apresentação do BTS começa tentando induzir convulsões (antes do show começar, um vídeo passou pela arena avisando que “alguns elementos do show podem te surpreender”.) Um furacão de luzes neon ricocheteiam pela arena; bolas de fogo surgiram do chão no palco; uma parede de sons estrondosos que batiam de frente somente com o rugido dos ARMYs. Ao mesmo tempo, quase todo o público tinha light sticks com Bluetooth, esferas que mudam de cor em uníssono com o show de luzes no palco. Você está rodeado por um oceano de luzes e cores pulsantes, que afunilam para um delta de explosão sensorial.

Com todos os seus sentidos devidamente obliterados, os integrantes do BTS ascendem de baixo do palco com jaquetas matador pretas e douradas combinando — a versão K-pop do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, como se as comparações com os Beatles já não estivessem evidentes. O grupo voou pelo número de abertura, “IDOL”, seu single mais recente que divulga ainda mais a mensagem de auto-estima (“Você não pode me impedir de me amar,” o refrão repete enfaticamente). Os ARMYs gritam cada palavra, incluindo as em coreano, enquanto o grupo pula, chuta e gira ao longo das coreografias mais cansativas que já vi.

É um verdadeiro espetáculo — imagine se o show do intervalo do Super Bowl tivesse duas horas e meia de duração — sem pausas. A cada três músicas, o BTS desaparece sob o palco — presumidamente, para descansar, trocar de roupa, beber água, e talvez comer uns Doritos ou algo do tipo. Enquanto estão lá, vídeos feitos especialmente para o show tocam nas gigantescas telas. Eles variam em tons, cor e sex appeal, dependendo do integrante mostrado. O primeiro vídeo da noite mostrou J-Hope e JungKook em camisas polo atrevidas, brincando em um fundo esparso e vívido como um filtro do Instagram (isso fez os adolescentes gritarem). O seguinte, muito mais sensual, mostrou Jimin e RM em cômodos diferentes mas conectados, de alguma maneira, segurando laranjas e olhando para a câmera numa maneira que me fez reconsiderar se passei minha vida toda subestimando o poder sexual das frutas (isso, também, fez os adolescentes gritarem). Os vídeos foram sucedidos pelas apresentações solo dos integrantes — uma vitrine, mas também um tempo alocado para que os ARMYs mostrassem seu apreço para cada um — que, depois, se reuniram para mais uma rodada de músicas.

Musicalmente falando, o BTS é fascinante — é como se tivessem feito um livro sobre toda a música popular e colocado em forma de músicas. Em suas canções, ouve-se Drake (“Trivia: Love”), The Chainsmokers (“Trivia: Just Dance”), Avicii (“DNA”), Daddy Yankee (“IDOL”), a era Reputation de Taylor Swift (“FAKE LOVE”), e até mesmo Linkin Park (“MIC Drop”). Um show do BTS é uma mistura da música pop apresentado por sete rapazes inacreditavelmente talentosos e indubitavelmente atraentes.

O mais importante, no entanto, é que o BTS é inconfundivelmente coreano. Mesmo durante o show em Nova Jersey, o grupo não tentou, de maneira alguma, se americanizar. Suas músicas oscilam sem esforços entre coreano e inglês, enfatizando sua identidade étnica enquanto diminuem as barreiras entre culturas. Fica claro que eles não se veem como um grupo de K-pop tentando fazer sucesso nos Estados Unidos; não são novidade. São, sim, um grupo da Coreia do Sul com uma audiência orgulhosamente global mais focada em o que nos une (lê-se: BTS) e não no que os divide.

É por isso que o BTS é, hoje, um dos maiores grupos do mundo, no caminho de se tornar o maior. Para se juntar aos ARMYs é renunciar as muitas maneiras em que a sociedade exclui pessoas tidas diferentes — por raça, linguagem, etnicidade, gênero, sexualidade — e, no lugar disso, celebrar compartilhamentos, o que me parece extremamente positivo para adolescentes crescendo em um mundo tão duro e dividido. E uma vez dentro dessa comunidade ligada pelo BTS, a língua franca é o amor próprio. Menos de uma semana antes do show no Prudential Center, RM e o resto do BTS discursou perante as Nações Unidas para encorajar os jovens do mundo a achar sua confiança interior. “Não importa quem você é, de onde vem, a cor da sua pele ou sua identidade de gênero, encontre sua voz. Encontre seu nome e encontre sua voz ao falar por você mesmo,” ele disse. A mensagem foi repetida diversas vezes nos shows.

A parte mais impressionante de ver o BTS se apresentar não foi o ataque aos sentidos ou as trocas de figurino (de jaquetas matador para camisas brancas de seda para figurinos pretos de bondage) ou o fato de que V teve uma coreografia com um cabideiro (o que foi, de fato, incrível) — foi o quão emocionalmente conectado o grupo parece ser com seus fãs. “Eu sou sua esperança. Vocês são minha esperança,” J-Hope disse depois da música de abertura. “Essa música é para vocês,” foi um refrão repetido antes de cada apresentação. “Respiramos o mesmo ar,” RM professou durante a despedida estendida. O grupo fala com seus fãs com intimidade, e eles o escutam sem um pingo de cinismo.

Fonte: The Ringer
Trans eng-ptbr; nalu @ btsbr

Artigos | por em 11/10/2018
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