Você não precisa falar coreano para gostar de BTS, mas ajuda…

Anúncio

Você não precisa falar coreano para gostar de BTS, mas ajuda…

A procura por aulas de coreano subiu 13.7% entre 2013 e 2016, fazendo dele a décima-primeira língua mais estudada nos Estados Unidos. O quanto isso tem a ver com o K-Pop?

Valerie, uma jovem de 25 anos nascida na Holanda, ama música mesmo quando ela não consegue necessariamente entender cada palavra que é cantada. Bom, por enquanto. Valerie – que é fã do BTS, EXO e BLACKPINK – é uma dos muitos fãs de K-Pop que começaram não conhecendo sequer uma palavra em coreano, mas que estão mudando isto. Sem nenhuma dúvida, “Não acredito que a linguagem seja uma barreira, ela apenas adiciona uma camada de valor cultural na minha opinião. Me fez perceber que efeito a língua tem na música – eu preciso entender o que está sendo dito para curtir? Eu percebi que não. Mas se eu ouço músicas que eu gosto, eu com certeza vou procurar por traduções, especialmente se a mensagem da música é algo com que eu possa me relacionar,” disse Valerie.

Se você está inserido no cenário internacional de fãs de K-Pop é seguro presumir que você já pensou, nem que por um instante, na importância da linguagem. Está em todos os lugares: nas piadas internas, nos programas de variedades coreanos que ainda não tem legendas disponíveis e no acesso à sites de conteúdos específicos e por vezes exclusivos, como o Fancafe do BTS. A linguagem também está presente nas críticas aos artistas que tanto admiramos – no racismo velado e xenofobia das pessoas que padronizam os idols, fazendo piadas com as letras de músicas e que questionam o engajamento de jovens, principalmente mulheres, e o entendimento de suas músicas favoritas – como se fosse realmente difícil conseguir traduções online nos dias de hoje ou entender que há sentimentos que transcendem palavras.

Alguns veículos já começaram a creditar o K-Pop como o responsável pelo interesse na língua coreana. E mais, um relatório feito pela Associação Moderna de Linguagens mostrou um aumento nas aulas de coreano de 13.7% entre 2013 e 2016, fazendo da língua a 11ª mais estudada nos EUA. Entretanto, a relação do K-Pop com o aprendizado do coreano vai muito além das salas de aula.

“O interesse em aprender coreano sempre esteve lá – não é como se o BTS ou outros grupo fossem os responsáveis por fazer as pessoas aprenderem,” esclarece Hyunwoo Sun, fundador da ‘Talk To Me in Korean’, e vencedor de prêmios por sua multi-plataforma de serviços que ensina coreano e que é utilizada mundialmente. “Entretanto, [o K-Pop] fez o trabalho dos alunos ser mais fácil. Em 2019, um aluno pode ficar online e se conectar com um ARMY coreano e se comunicar, e isso é uma grande motivação para o aprendizado. É mais fácil mostrar seus interesses e ser compreendido por outras pessoas. Não é mais algo estranho de se falar.”

Katy, uma jovem também nos seus 25 anos e fã de diversos grupos nascida na Inglaterra, está atualmente estudando coreano em sua universidade. “Eu decidi começar a estudar porque queria ser capaz de entender o que as letras das músicas estavam dizendo e o que os idols estavam falando nos programas e entrevistas,” ela diz. “Comecei aprendendo algumas palavras aqui e ali e fui meio que sugada por isso. Foi apenas alguns meses antes de eu comprar meu primeiro livro e começar a aprender sozinha.”

Apesar de inevitavelmente você entender algumas palavras soltas enquanto escuta K-Pop, muitos fãs são especialmente gratos àqueles fãs que se dedicam à tradução, que gastam horas voluntariamente fazendo tweets, vídeos e disponibilizando conteúdos acessíveis aos não falantes do coreano. Um desses tradutores é @Alittlefreakey, uma fã do SHINee que administra uma conta no Twitter dedicada ao grupo, especialmente ao seu bias Key.

“Sou uma coreana-americana, mas eu não aprendi muito de coreano durante a infância porque meus pais são ambos fluentes em inglês,” diz @Alittlefreakey quando questionada o que a motivou a começar a aprender a língua. “Percebi que precisava melhorar meu coreano quando eu não conseguia me comunicar tão bem quanto gostaria com meus parentes distantes. Traduzir [conteúdos do SHINee] foi uma alternativa divertida às aulas de linguagem nos sábados. Eu sou Shawol [nome dado aos fãs de SHINee] desde o debut do grupo e aprendi a legendar vídeos especialmente para ajudá-los a crescer internacionalmente como rookies.”

@Alittlefreakey faz traduções desde 2009, voltando de uma longa pausa para apoiar as promoções solo recentes de Key. Observar o fandom crescer a motiva a gastar seu tempo trabalhando voluntariamente em traduções, mas ela também é consciente e rápida em trazer a tona a responsabilidade que fãs/tradutores têm em suas mãos. Ela diz que gostaria que “mais fãs que postam traduções entendessem que há um certo grau de responsabilidade ao assumir esse posto de ‘fã/tradutor’. Fãs internacionais que não falam coreano se baseiam em nós para informações, então nós deveríamos todos ser cautelosos com as fontes e veracidade de nossas traduções. Traduções ruins são piores que a ausência de traduções.”

E ela está certa – não é incomum maus entendidos se espalharem como fogo no Twitter devido à erros de tradução, o que obviamente é longe do ideal, algumas vezes até problemático. Mas a contextualização de frases ou letras não está somente na leitura – geralmente, aspectos culturais das músicas precisam ser esclarecidos, e diversos veículos se dedicam exclusivamente para suprir esta necessidade. Um exemplo é o popular canal de Danny e David e de sua série Explained by a Korean, onde ambos destrincham referências e jogos de palavras que muitas vezes passam despercebidos pela audiência internacional.

No entanto, além do K-Pop e da língua coreana, e queiram os veículos ocidentais se pronunciar ou não, a linguagem sempre teve importante papel dentro dos fandoms para aqueles que nasceram em países de línguas que não seja o inglês. Como uma brasileira e tendo o português como língua-materna, eu atribuo minha influência no inglês grande parte ao fandom, e meu amor por bandas punk da Califórnia durante minha adolescência. Naqueles anos com os olhos borrados de lápis de olho preto e delineador, eu passava horas procurando por traduções e assistindo documentários legendados. Essa dedicação era natural para mim: eu gostava daquelas bandas e de suas músicas, então queria aprender mais sobre elas. Então porquê é tão chocante, como alguns nativos da língua inglesa sugerem, que fãs de K-Pop se interessem em aprender coreano?

“Acredito que os equívocos [sobre os fãs de K-Pop] vem do gênero, mais que qualquer outra coisa,” aponta Yady, norte-americana de 24 anos fã de BTS, EXID e Twice, com língua-materna o espanhol. “Sei que nos EUA há pequenos grupos de fãs para conteúdos de língua estrangeira, mas eles são majoritariamente dominado por homens – como filmes internacionais e até mesmo ‘música global.’ Mas por causa do K-Pop ser retratado por jovens meninas, as pessoas não conseguem colocar na cabeça a possibilidades dessas garotas serem experientes e estudadas e de terem – pelo menos – dominado as funções do Google Tradutor.”

A maioria dos fãs inseridos no cenário do K-Pop são cientes e tem orgulho de sua diversidade linguística única, tanto dentro de seus grupos favoritos quanto em fóruns online. Esses fãs também estão notavelmente preparados para ajudar uns aos outros quando o assunto é entendimento, seja discutindo e ajudando alguém a entender a notícia sobre a nova mudança de cabelo de seu bias ou destrinchando assuntos políticos complexos.

Dito isto, não é sempre um mar de rosas. Pode se tornar um tanto irritante quando fãs não-coreanos se apropriam de termos da língua ou reclamam pedindo músicas em inglês para artistas coreanos. “Acho que existe uma satisfação em ouvir as vozes que você ama e acompanha cantando em uma língua que você entende,” diz Yady, que assim como outros fãs, entende que os muitos pedidos por músicas em inglês são normalmente sem malícia, apenas infelizes. “Há também um desejo da indústria ocidental de meio que intimidar estrangeiros ao assimilar isto ao alcance de sua própria audiência. Existe sempre a pressão de fazer algo mais acessível e fácil.”

Em todo caso, o que precisa ser compreendido por aqueles que debocham da ideia de jovens mulheres amando algo que não seja em inglês, é que nossa conexão com a linguagem vai muito além apenas de querer entender certas palavras em coreano com o objetivo de entender músicas – e que a acessibilidade ao inglês não é, e nunca deve ser, o ponto final para o gosto e admiração de alguém por música ou um grupo.

Escutar a batida poderosa de “I Am the Best” do 2NE1 pode dar a qualquer um uma sensação de independência e auto-afirmação. E quando você combina o timbre grave de Taehyung (V) durante “Singularity”, com suas batidas lentas e marcadas, é fácil interpretar o luto por trás daquelas palavras, mesmo que você não as compreenda imediatamente. Isso tudo somado à visuais impecáveis de videoclipes, e você alcança uma história que transcende os oceanos.

“Mesmo que traduções e legendas não existissem, a música por si só é uma linguagem,” diz Tássia, brasileira de 28 anos fã de K-Pop que atualmente mora em Portugal. “Você sabe quando uma música transmite tristeza ou alegria, mesmo que seja apenas pelo instrumental. E com os videoclipes, as mensagens se tornam ainda mais claras: você vê as expressões dos artistas, as imagens, a coreografia. Tudo é uma forma de comunicação – e nem toda mensagem precisa de palavras.”

Fonte: Noisey

Artigos | por em 20/03/2019
Compartilhe:

Comentários:


This error message is only visible to WordPress admins

Error: No connected account.

Please go to the Instagram Feed settings page to connect an account.

Anúncio