Como se tornar uma sensação do K-Pop

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Como se tornar uma sensação do K-Pop

O sucesso comercial do BTS nos Estados Unidos realiza os sonhos mais fervorosos da indústria pop coreana. Gravadoras da Coreia vem tentando gradualmente deslizar para dentro da proeminência global na última década, mas, com a exceção de “Gangnam Style, de Psy — uma música ‘de comédia’ e, portanto, uma sorte no acaso –, o mercado americano tem se provado difícil de emplacar. Desde o fracasso do álbum todo em inglês da cantora BoA, de 2009, em colocar a cantora como um ícone pop comparável a Britney Spears, todas as tentativas coreanas, em sua maioria, foram em vão; ainda que houvessem conversas sobre o Girls’ Generation gravar algo em inglês há alguns anos, nenhum álbum do tipo se materializou.

BTS, também conhecido como Bangtan Boys, Bulletproof Boy Scouts e Beyond the Scene, conseguiram essa proeza. Três álbuns consecutivos do BTS chegaram na Billboard 200, onde nenhum outro artista coreano conseguiu. Love Yourself: Tear, lançado em maio, estreou em primeiro lugar, assim como a compilação Love Yourself: Answer, que traz músicas do álbum do ano passado Love Yourself: Her e do supracitado Tear estendidas em um set de dois discos. Para álbuns majoritariamente em uma língua que não é um inglês, esse é um feito histórico, e uma alegria.

Enquanto estrelas coreanas cujo material recente vem sendo especificamente calculado para soar familiar às paradas de música pop americanas, ao mesmo tempo ainda soando como K-pop e como eles mesmos, o BTS é um artista delicadamente equilibrado. Comprometidos com a preservação de sua reputação, e a do K-pop no geral, para inovação sônica, eles lotaram suas músicas de elementos conflituosos e explosivos. “I Need U”, seu primeiro grande single, chacoalha com bateria propulsiva, sintetizadores irritantemente agudos, assobios estridentes, teclados maximalistas e um refrão que combina diversas melodias familiares em um monstro desejoso — pasmem, uma música aerodinâmica mas também ressonante, como se todas as pequenas partes estivessem se esforçando para romper através da superfície polida.

Mas exatamente porque músicas profundas como “I Need U” raramente chegam às paradas hoje em dia, o trabalho recente do grupo, como o pop americano em geral nos últimos anos, vem se tornando sobressalente e devagar. Sem diminuir sua rede de estilos, eles acomodaram as preferências do mercado de streaming por softcore eletro-R&B hipnótico, com ritmos que brilham ao fundo, quicando e ecoando através de longas extensões de espaços vazios. Suas vozes e personalidades desajeitadas e brincalhonas, como é normal que apareçam em qualquer boy band com sete integrantes, os salvam do esquecimento, bem como suas batidas ressoantes, refrões icônicos e danças sincronizadas.

 

Eles estão presos na obrigação familiar que os artistas têm em ter que representar e se manter verdadeiros para uma comunidade que os promoveu ao mesmo tempo que fazem músicas populares para um público que só agora começou a prestar atenção. Mas, no caso deles, sua comunidade original é a Coreia do Sul, e encabeçam o projeto de conquista do mundo desse país, e a massa é os Estados Unidos, a “fronteira final”. A estética do grupo não é muito diferente daquela dos The Chainsmokers, com quem eles já trabalharam na balada-EDM “Best of Me”, no entanto, com sua postura e boa vontade para perseguir o gancho [da música], eles provam que superficialmente soar como The Chainsmokers pode ser excitante e até mesmo experimental. Esse é o grande sucesso de vendas.

“FAKE LOVE”, a faixa principal do álbum Love Yourself: ‘Tear’, tipifica sua abordagem, empilhando acordes de guitarra rasgados, baixos eletrônicos farfalhantes e múltiplas camadas de sintetizadores em uma máquina de movimentos suave, com uma melodia que constrói um hino do rock com a graça aerodinâmica de um hit das pistas de dança. Os rapazes soam tanto roucos e ásperos, quanto desejosos, rosnando os versos de rap enquanto cantam suavemente no refrão com filtros vocais tão aquosos quanto os próprios teclados. Ainda que a música seja quase que totalmente em coreano, o título, o refrão grandemente ascendente (“I’m so sick of this fake love”), e um pós-refrão abruptamente descendente (“Love you so bad”) encerra o argumento com frases isoladas em inglês.

Nadando numa maré de um balanço ecoante, muscular e vagamente de trap latino, “Airplane pt. 2” tem truques parecidos; junto dos violinos, tambores de aço e o efeito percussão enferrujada, os garotos apimentam seus raps em coreano com slogans em inglês (“I don’t know I don’t know I don’t know I don’t know”), e o refrão também inclui espanhol (“El mariachi”).

Misturar outras línguas em canções em coreano é um hábito bastante comum na indústria pop da Coreia, especialmente nas músicas principais. O BTS é especialmente astuto quando o assunto é incorporar frases em inglês, uma vez que aparecem em intervalos melódicos cruciais — os “bliss points”, como os compositores da indústria chamam, o momento de três segundos perfeitamente condensado para grudar na sua cabeça. Se você cantarola essas músicas — e você vai, elas são contagiantes! —, você cantarola em inglês, mesmo que sob a impressão de que está cantarolando em coreano. E aí, as mentes de fãs do pop estão, então, infiltrados através da linguística.

Ainda que Love Yourself: ‘Answer’, a compilação, seja exatamente a extravaganza de carreira que queriam, é também meio bagunçado; com sequências erráticas, pontuado com remixes redundantes, ele omite músicas deleitáveis dos dois álbuns (“Pied Pieper”!). Notavelmente, Love Yourself: ‘Tear’ se encaixa como um álbum. Superficialmente sobressalente, é um compêndio de nós densos com ganchos de todos os tamanhos e formas.

As músicas são nada mais que ganchos bem elaborados e juntos, seja melodias pop plenamente desenvolvidas ou pequenos fragmentos texturizados e bregas: as flautas ofegantes e a guitarra rítmica animada contorcem-se em “134340”; os riffs alegres e refrão chiclete em “Love Maze”; a maneira como a voz dos rapazes se juntam sob um véu cintilante e o drop delicado em “Magic Shop”; os bipes percussivos que morfam em uma nova onda de sintetizadores em “Anpanman”. O hábito do grupo de cantar refrões completos por cima dos drops, o que frequentemente funciona como intervalo musical, ilustra que o tratamento de extravagância é um fim em si mesmo. Até as baladas tem gancho, como quando a chorosa “The Truth Untold” irrompe em uma enxurrada de baterias poderosas no final.

Com frequência, álbuns de K-pop que comprimem muitos estilos em um mesmo espaço musical falham em uni-los, uma tendência que aconteceu com o BTS no passado. Love Yourself: ‘Her’ foi dividido exatamente ao meio entre EDM e rap, como se estivesse fazendo uma piada com o drible de gêneros. Graças ao modelo imposto de eletro-R&B, Love Yourself: ‘Tear’ toca ininterruptamente; é possivelmente o único álbum coerente que já ouvi no estilo EDM-softcore-Chainsmokers. A música americana equivalente continua sendo plácida, vazia, menos híbrida. O BTS produziu um álbum cuja superfície eletrônica limpa não mascara os prazeres, mas os junta. Chiados e trancos metálicos em abundância e balanceados por brilho. O álbum desliza delicadamente ao mesmo tempo que bate de forma agressiva. Música que tranquiliza, inexplicavelmente se torna excitante — é isso o que significa construir uma sensação do pop.

Sem a necessidade de marketing, o artistas pop americanos não irão replicar esse tipo de música, nem outros grupos coreanos — o espírito colaborativo do BTS, sua afeição por barulhos estranhos e texturas, e a combinação de distanciamento e energia os diferencia de qualquer outro. Eles triunfam na crença, possivelmente antiquada, de que quanto mais alto, mais divertido. Eles conseguiram, por fim, construir uma algazarra racional.

Fonte: Hyperallergic
Trans eng-ptbr; nalu @ btsbr

Artigos | por em 18/12/2018
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