BTS, a nova gramática da Hallyu

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BTS, a nova gramática da Hallyu

Desde que o drama “사랑이 뭐길래” (What Is Love, em inglês) se tornou popular na China, em 1997, a cultura popular coreana tornou-se uma marca e o consumo em massa passou a ser observado além das fronteiras nacionais. Esta é a base para chamarmos este ano do “20º Aniversário da Hallyu”. No entanto, ao mesmo tempo que o termo “hallyu” é uma retórica cheia de significados, ele vem se tornando um conceito inefetivo na política industrial. Da música à indústria de cosméticos, quais estratégias devem ser articuladas para incentivá-la? Quanto a isso, um representante de uma agência do governo disse “esta é a era da K-Culture! Jogos, quadrinhos, desenhos animados, comida coreana, Hanbok! É a realização da Onda Coreana 3.0!”, fazendo com que eu me sentisse envergonhado pelo seu tom de voz. Isso porque existe a possibilidade de encorajar o imperialismo cultural ou provocar um nacionalismo retrógrado. A política governamental de apoio à cultura realmente não ajuda a indústria.

A razão pela qual continuamos a usar o termo “hallyu” é por causa de uma explicação teórica. A circulação de cultura proveniente de um só eixo — como a que expandiu Hollywood e o McDonald’s, por exemplo — não é mais efetiva. Cultura de massa, atravessando nações, se expandiu e tornou-se diversa. Um drama ou uma canção de um país pequeno, localizado na periferia da cultura, pode até ser exportada para Hollywood, mas é difícil de estereotipar o conteúdo simplesmente como algo “muito coreano”. O material que já era uma cultura de massa atravessa a nação e se torna localizado: em outras palavras, a “hallyu” (ou “onda coreana”), não é mais somente propaganda ou ferramenta que traz lucro para a Coreia, mas sim um conceito que brilha com o aspecto que explica a cultura globalizada do século 21.

Nesse sentido, a performance do BTS no AMAs 2017 é um evento que mostra como a cultura global de massa está mudando. O BTS não somente recebeu um prêmio no BBMAs, mas sucedeu ao entrar na Billboard Hot 100. Eles já terminaram as gravações para o 2018 Dick Clark’s New Year’s Rockin’ Eve. Sua nova música, “MIC Drop (Steve Aoki Remix)”, ultrapassou as 10 milhões de visualizações no YouTube em apenas 5 horas de lançamento, e chegou ao primeiro lugar do iTunes em mais de 40 países. É um sucesso incrível que ultrapassa o de “Gangnam Style”, de PSY. Como tudo isso foi possível? Estamos olhando, agora, para a nova gramática da Hallyu.

O BTS nunca teve uma estratégia planejada para o mercado musical americano. É diferente de como o Wonder Girls tentou se dirigir aos Estados Unidos, mas saíram de mãos abanando em 2009. O BTS, por outro lado, não só produziu e circulou MVs mas também uma quantidade incrível de outros conteúdos próprios também, sendo diferentes de PSY, que se tornou “um sucesso de uma música só” em razão do seu MV de mega sucesso. O BTS não só englobou maneiras de contar suas próprias histórias, mas também vem construindo um personagem para cada membro como se fosse um reality show de longa duração. São diferentes de outros idols que se armaram somente com carisma e coreografias afiadas.

É claro, no entanto, que uma das grandes razões para o sucesso do BTS são seus membros charmosos, que possuem talento e ótima ética de trabalho.

Portanto, o sucesso do BTS mostra como o ambiente técnico da mídia teve um papel importante, em outras palavras, provando que a internet e os celulares realmente são a base central da globalização da cultura no século 21. O fato de que a tolerância com culturas diversificadas aumentou é diretamente ligado, também, ao ambiente da mídia, e a dispersão causada por movimentos físicos frequentes devem ser considerados como um fator importante. Significa que, nessa era, os fluxos culturais não se concentram apenas numa área central e arredores onde os movimentos estão fixados, mas sim se espalham para as áreas periféricas. É claro que compartilhar conteúdo na internet não é um fenômeno novo que atrai fãs ao redor do mundo, no entanto, compartilhar histórias reais de por trás das câmeras, provendo fotos e mensagens frequentemente e mantendo um relacionamento com o fandom é a recém-nascida gramática do sucesso.

A.R.M.Y., o fandom do BTS, não se conectou com o fandom coreano ou com a comunidade asiática nos Estados Unidos, mas se expandiu através das redes sociais em diversas nações e regiões. Não é como se o BTS tivesse tentado tomar o mercado musical dos Estados Unidos, mas os fãs ao redor do mundo criaram um espaço para eles e é por isso que o BTS não precisa, necessariamente, tentar ganhar popularidade no meio doméstico. O grupo rookie K.A.R.D. também tem mais popularidade fora da Coreia.

O número de seguidores na conta oficial do BTS no Twitter ultrapassou os 10 milhões. Os fãs do grupo são a força por trás da sua presença nos Estados Unidos e foram quem os levou até o AMAs, mesmo considerando que o BTS não foi formado por empresas como SM, YG e JYP, conhecidas como as empresas “Big 3” da indústria.

Por meio do sucesso do BTS, podemos ver o potencial da nova “onda coreana”, mas há também a preocupação que vem com ela. Me preocupo se alguém tentará colocar outdoors anunciando a cultura coreana na Time Square por pura animação, ou se alguém tentará  montar na estátua da dança do cavalo (do PSY) no meio do distrito de Gangnam. Essa nova gramática da “onda coreana” não é familiar mas se trata de uma gramática cultural global onde as pessoas constantemente se comunicam, entendem e aproveitam uns aos outros. O BTS e o crescimento do K-pop devem ser considerados como evidências desse movimento cultural histórico. Ninguém deve ousar fazer desses talentosos artistas coreanos vítimas dos patriotas da “Hallyu 2.0”.

 

 

Fonte; Yoon Tae Jin, professor de Comunicação na Escola de Pós-Graduação da Universidade de Yonsei, Coreia do Sul @ Naver
Trans ko-ptbr; nalu @ btsbr

Notícias | por em 30/11/2017
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