BTS está dando ao K-pop o sucesso americano que merece

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BTS está dando ao K-pop o sucesso americano que merece

Em uma noite úmida de Julho, Kaley voltou para casa após a aula em Louisiana, engoliu o jantar feito por sua mãe, e se retirou para seu quarto, onde sentou em sua cama e começou a conversar com suas amigas sobre K-pop. A alegre adolescente de 14 anos está em vários grupos de mensagem sobre o fenômeno global chamado de K-pop, mas hoje ela tinha uma missão a qual adora: A chance de recrutar uma nova fã para o BTS, o septeto extremamente popular que mescla seu estilo hip-hop com batidas pop animadas. Quando uma amiga da internet pediu ajuda para conhecer melhor o grupo, Kaley passou uma completa descrição de sua música, e uma pequena descrição de cada membro do grupo. Quando chegou em SUGA, um rapper e produtor musical com cabelo azul claro, Kyle digitou “Ele é tão bonito que eu quero enfiar um martelo em minha boca”.  Então ela foi e realmente colocou um martelo em sua boca.

“Eu espero não estar começando uma nova moda!”, Kaley disse, rindo, durante uma tranquila conversa pelo telefone. Ela conseguiu tirar o martelo sem dor, mas admite que “não deve ser a melhor coisa do mundo [para o BTS] descobrir que suas fãs estão enfiando ferramentas em suas bocas”.

Dedicação séria ao BTS não é raridade entre os fãs do septeto, apesar da maior parte deles transmitir sua paixão de maneiras mais produtivas: assistindo seus vídeos, e baixando suas músicas. Essa semana, para o ranking abrangendo até o dia 21 de Setembro, o grupo entrou na lista de Top Álbuns americanos em 7º lugar com Love Yourself: HER, seu mini-álbum com uma criativa mistura de rap e pop, graças à consistente campanha online de seus fãs ao redor do globo. De acordo com a Billboard, é o álbum de K-pop a chegar mais alto em seus rankings – superando o recorde anterior estabelecido pelo próprio BTS, com seu álbum de 2016 WINGS – e ajudou o septeto a alcançar as maiores vendas na 1ª semana do gênero de todos os tempos. Isso foi potencializado, em parte, pelos números de visualizações do hipnotizador vídeo de “DNA”, aonde os membros desafiam gravidade em lugares que lembram “A Origem” e moldam seus corpos em coreografias inspiradas por moléculas de DNA, em um refrão viciante. No ranking de Singles, “DNA” é uma novidade na 85ª posição, sendo apenas a 2a música de K-pop cantada predominantemente em coreano a atingir o Hot 100, seguindo o hit de PSY “Gangnam Style”, que chegou à 2a posição em 2012.

O grande momento atual do BTS não veio do nada. Desde o lançamento de “No More Dream”, uma batida pesada com fundo hip-hop em 2013, a comunidade de fãs do grupo, chamados de ARMY, vem apoiado o grupo com a mesma precisão tática que o nome sugere*. BTS está no momento no topo da lista da Billboard Top 50 pela 40a semana seguida, graças à suas visualizações no YouTube e as interações com suas selcas no twitter, ao mesmo tempo que a TIME incluiu o septeto na lista de 25 pessoas com maior influência online, em Junho de 2017. O grupo foi o 44o artista mais visualizado no YouTube nos Estados Unidos entre Janeiro de 2016 e Abril de 2017, de acordo com a reportagem feita pelo New York Times em Agosto deste ano.

Em maio de 2017 a banda ganhou o prêmio de Top Social Artist no Billboard Music Awards, ganhando de artistas como Justin Bieber, Selena Gomez, Shawn Mendes e Ariana Grande. (Eles utilizaram o discurso de vitória de RM na premiação em uma skit em Love Yourself: Her). “Provavelmente foi a maior representação do poder do K-pop e de sua apaixonada fã base, até agora”, disse recentemente Jeff Benjamin, colunista de K-pop para a Billboard. “Mas, mesmo em 2013, no Youtube Music Awards, o grupo coreano Girls’ Generation estava competindo contra Justin Bieber e Lady Gaga – e os fãs do girl group coreano derrotaram sua competição. Antes disso, BIGBANG ganhou um MTV EMA pelo Melhor ato Mundial. Se você coloca na mesma plataforma a fã base de K-pop e fãs de grandes artistas ocidentais, pudesse ver o poder do fãs de artistas orientais.”

K-pop como nós conhecemos já existe por volta de 2 décadas, mas realmente começou a fazer sucesso no Oeste no final dos anos 2000, quando artistas como BIGBANG, TVXQ, Girls’ Generation, Wonder Girls e 2NE1 foram parte de uma onda de exportação coreana chamada de Hallyu. Estes grupos foram capazes de criar um plano piloto para que os maiores artistas do país atualmente fossem capazes de fazer sucesso no mundo todo, e prepararam o ambiente para o sucesso do BTS nos EUA. Desde então, muitos dos grupos coreanos femininos estabelecidos nos anos 2000 já se separaram, ou então seus membros estão focando em projetos solo. Grupos masculinos normalmente se separam ou entram em hiatus por tempo indeterminado quando seus membros são chamados pelo governo sul-coreano para cumprir com o prazo obrigatório de 2 anos no exército do país, que deve ser cumprido até os 35 anos de idade. A aposta é que existe espaço para o surgimento de uma nova geração do gênero. “Antigamente, o primeiro grupo de K-pop que se pensavam eram Super Junior, Girls’ Generation, ou BIGBANG,” diz Kaley. “Agora, normalmente é BTS ou EXO.”

Essencialmente, são atos mais novos como BTS – ou o grupo de 9 membros EXO – que parecem ganhar os corações dos fãs americanos, em um tempo onde não existem muitos grupos ocidentais competindo no mercado. A mídia foi bem assertiva ao mostrar o vácuo deixado pelo One Direction após sua dissolução em 2016, e grandes empresas de entretenimento vêm desde então tentando garantir um pedaço do que foi deixado pelo grupo britânico. Nos últimos anos se viu o surgimento das estrelas latinas vindas de reality shows CNCO, além dos queridinhos Why Don’t We, e o grupo saudoso PRETTYMUCH. Mas estes grupos não foram capazes de conectar com a audiência americana de maneira mais forte, apesar de CNCO ser muito famoso em países latino-americanos, e os outros dois estão começando a aparecer nos EUA com seus videoclipes atraentes.

O apelo de boybands vai além de jovens homens e mulheres, mas usando meus anos de experiência como base fica claro que grande parte dos fãs online são adolescentes. Os americanos ficam conectados cada vez mais jovens – de acordo com uma pesquisa feita pelo The Atlantic, ¾ dos adolescentes americanos são donos de um iPhone. Em seus aparelhos, os fãs encontram maneiras criativas de se conectar em plataformas já conhecidas, ou procuram por novas redes sociais. Kaley normalmente encontra outros fãs de K-pop por meio de grupos de DM no Twitter. “Existem meios de qualificações para entrar nos grupos”, ela clarifica. “Se eles acham que você se encaixa no grupo, eles te deixam entrar. Meus amigos desses grupos de mensagem começaram a fazer seus próprios grupos, e se torna um grande ciclo.” Jordyn Gonzales, uma fã de 14 anos de Las Vegas, me disse que ela gosta de usar Amino, um app específico para a comunidade K-pop, onde as pessoas “discutem suas músicas favoritas, videoclipes favoritos, e seus bias [uma gíria usada na cena K-pop para descrever a preferência de um fã por um membro específico].”

O sucesso do BTS nesse ambiente não é acidental; sua estética envolvente é adaptada para as tendências das redes sociais em tempo atual. “O grupo adaptou sua imagem de acordo com as tendências do tumblr antes de sua competição, desde seu senso de moda até seus videoclipes e imagens dos álbuns.” disse o jornalista especialista na indústria K-pop Jakob Dorof. “Eles foram o primeiro grupo de K-pop a abordarem a proposta de utilizar o “estilo Soundcloud” para sua música. Eles e sua equipe descobriram um plugin chamado Serum – um som sintético presente desde as músicas do The Chainsmokers até Marshmello – meses antes de qualquer outra agência de entretenimento coreana. E eles fizeram questão em enfatizar a participação dos membros no processo criativo em sua música [todos os 7 membros contribuem com escrita ou produção]. Juntando isso tudo e tem-se um grupo que, no início de 2015, já estava atraindo fãs ocidentais de K-pop com maior intensidade que qualquer um de seus conterrâneos.”

Apesar de fãs do BTS ainda não podem ir em rádios de Top 40 músicas e escutar hits do grupo sul-coreano, a posição do septeto na cultura pop americana é capaz de aumentar seu apelo para muitos fãs – é legal sentir como se você fizesse parte de um segredo. Assim como dito por Kaley, alguns fãs gostam de se “diferenciar do que está tocando na rádio, ou o que é comum.” Outra forma que BTS se destaca é sua habilidade peculiar em dança, como exemplificado pelo seu mini-filme barroco “Blood, Sweat and Tears, ” onde pode-se ver um ruivo J-Hope vestindo um blazer com estampa animal enquanto a banda vai até o chão e traz atenção para suas virilhas. Existe uma fluidez sexy para seus movimentos que é amplamente odiado por grupos pop da América do Norte e Europa, e acredito que todos nós ficaríamos melhor com um pouco disso. (Observação: Jimin tem tanquinho.)

Kaley admite que as roupas e performances peculiares do BTS já atraíram reações homofóbicas em seu estado natal, Louisiana. “As pessoas são muito preconceituosas aqui – em grande parte apoiadores de Trump,” ela disse. “Eles irão automaticamente dizer ‘Ah, isso é gay’. Me deixa brava como as pessoas podem julgar os outros pelos gostos de cada um. Eu gosto de ser mais madura, e não responder.” É frustrante que algumas audiências podem se afastar do septeto porque seu look alta-moda e coreografia não combinam com a imagem padrão de machos ocidentais. Mas, para seus fãs, isso é outro motivo para amá-los.

Benjamin explicou que BTS quebra amplamente com as tradições de seu país natal de outras formas. “Muitas vezes K-pop não extrapola muito em questão de tópicos das músicas que escrevem,” ele disse. “Mas o BTS vem feito um ótimo trabalho em balancear músicas descontraídas com músicas que abordam as dificuldades de ser jovem, política, depressão [o hit “Whalien 52″ de 2015 tratou sobre solidão e ansiedade]. Esses são tópicos que jovens estão atualmente mais abertos do que nunca. O grupo sul-coreano normalmente se coloca dentro da música, e isso os faz chamar atenção.”

A presença constante do BTS nos chatrs americanos é bem vindo em um mar de hits semelhantes. Enquanto que uma colaboração com o duo válido de aparição no ULTRA Chainsmokers em seu mais novo álbum Love Yourself: Her indica que eles estão de olho nas tendências ocidentais, o septeto se mantém firme em seu som original, e ainda cantam em coreano. “Eu consigo ver eles trabalhando com grandes artistas ocidentais, e eventualmente chegando em um momento similar ao que foi ‘Despacito,” disse Dorof, ressaltando que os serviços de streaming estão tornando os charts uma amostra mais inclusiva dos hábitos dos americanos. “Eu venho esperando um retorno dos charts de pop da Billboard dos anos 60 já fazem anos, e me parece que estamos finalmente chegando lá. E tudo que precisou foi relaxar o poder das rádios sobre a música popular que vinha durando por mais de meio século.”

Enquanto isso, a Hallyu continua a espalhar sua influência e cria comunidades de novas maneiras, tanto online como na vida real. Jordyn diz que seu ciclo de amigos de K-pop em sua escola chega a 30 pessoas, e ela já viu meninos imitando os cabelos coloridos e postura descolada da banda. Quando conversamos, logo antes do lançamento de Love Yourself: Her, ela descreveu animadamente seus planos para uma festa de lançamento em sua escola. Depois, em um e-mail, ela refletiu sobre como sua banda favorita impactou em sua perspectiva sobre música no geral. “Eu lembro de minha mãe falando sobre como ela costumava marcar seu calendário com lançamento de vídeo clipes da Britney Spears ou *NSYNC, e acordava para assistir MTV,” ela disse. “Foi algo que antes eu não conseguia compreender, e eu pensava estar perdida em minha geração. Quando eu vi o primeiro vídeo do BTS, entendi o que ela queria dizer.”

*Referência à ARMY, que significa exército em inglês, representando um grupo de soldados que exercem funções de maneira pragmática e funcional.

Fonte: Fader
Tradução por: fer @ BTSBR

Artigos | por em 14/10/2017
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