Como o BTS derrubou estereótipos asiáticos e dominou os Estados Unidos

Anúncio

Como o BTS derrubou estereótipos asiáticos e dominou os Estados Unidos

No dia 27 de maio, o grupo sul-coreano de sete integrantes, BTS, se tornou o primeiro artista de K-pop ao chegar ao primeiro lugar da Billboard 200 com o seu terceiro álbum de estúdio, Love Yourself: Tear.

Uma semana antes, o BTS havia ganhado o prêmio de Top Social Artist pelo segundo ano consecutivo no Billboard Music Awards 2018, derrotando artistas como Justin Bieber e Ariana Grande. Durante a premiação, eles apresentaram a música “Fake Love” para o delírio dos adoradores fãs americanos, que pareciam não encontrar problemas para cantar as letras em coreano.

Como alguém que estuda e ensina sobre cultura coreana moderna, eu venho seguindo os altos e baixos da popularidade do K-pop nos Estados Unidos com uma mistura de interesse e ceticismo. Como Euny Hong, autora do livro “The Birth of Korean Cool” (2014), eu, também, sou mais familiarizada com um tempo em que a Coreia era simplesmente considerada “fora de moda” pelos padrões ocidentais.

Por décadas, os americanos pareciam enxergar a Coreia somente através das lentes da Guerra da Coreia e das tensões diplomáticas com a Coreia do Norte. A música pop coreana mal era reconhecida.

Mas, quando escutei “MIC Drop” e “Fake Love” em uma estação de rádio local durante uma viagem ao meu campus, eu percebi que talvez o K-pop tenha entrado em uma nova fase. A crescente popularidade do gênero diz tanto sobre o talento de grupos como o BTS quanto sobre o gradativo papel [da Coreia do Sul] nos assuntos globais.

A estética “perfeita”

O K-pop é um estilo particular de música popular sul-coreana que é distinta de outras formas de música popular coreana, como o trot e baladas sentimentais. Muitos traçam a sua origem ao começo dos anos 1990, mas o gênero só se tornou algo próprio entre os anos 2000 e 2010, com artistas como BoA, Wonder Girls, Girls’ Generation, TVXQ, Big Bang e 2NE1 se tornando imensamente populares na Ásia e além.

A parte “pop” do K-pop parece fácil de se entender; você escutará as influências musicais americanas — principalmente dance pop, mas também rap, hip-hop, R&B, jazz, techno e rock — nas músicas do K-pop.

Mas e quanto ao “K”? É aqui que o estilo único da Coreia entra em cena: melodias contagiantes cantadas quase que inteiramente em coreano, algumas palavras em inglês estrategicamente posicionadas no refrão contagioso, e grupos compostos por integrantes do mesmo gênero, tendo de 7 à 15 membros.

Ao meu ver, o maior aspecto atrativo do K-pop é a busca incansável dos integrantes dos grupos pela perfeição. Suas apresentações envolvem coreografias perfeitamente sincronizadas. Eles também tendem a ter um visual muito específico, que reflete os padrões de beleza idealmente caucasianos: feições esculpidas, olhos grandes, nariz reto, pernas longas e roupas da moda.

A ambição global do K-pop é outra qualidade que diferencia o gênero de outras músicas coreanas. A exportação do K-pop para o resto do mundo não é só um objetivo da indústria musical coreana, mas também uma prioridade governamental. Por exemplo, nas Olímpiadas de Inverno de Pyongchang, os organizadores deram preferência para a apresentação de artistas como EXO e CL na cerimônia de encerramento.

Durante décadas, a Coreia do Sul foi um país devastado pela guerra e pela pobreza. Mas, começando entre os anos 1960 e 1970,  sob a administração do ditador Park Chung-hee, o país embarcou em um ambicioso programa de desenvolvimento econômico e, em menos de meio século, a nação se transformou em um dos principais poderes econômicos do mundo.

Para muitos jovens coreanos, as estrelas do K-pop representam a imagem ideal deles mesmos; para os líderes coreano, eles simbolizam o futuro promissor do seu país.

Uma atração única

Mesmo assim, até recentemente, a maioria dos americanos conseguiam nomear apenas um ou dois grupos de K-pop.

Muitos tiveram seu primeiro contato com o K-pop após o hit global de Psy, “Gangnam Style”, em 2012. A música, um hino irônico à deslumbrante superficialidade do distrito de Gangnam, uma área rica de Seul, acumuluou 1 bilhão de visualizações no YouTube ao final de 2012.

Mas alguns não consideram Psy e seu hit como um verdadeiro reflexo do K-pop.

Em “Gangnam Style”, os ocidentais foram expostos a uma paródia do K-pop, uma performance zombeteira que transmite sensações de orientalismo e exotismo. O público, principalmente no ocidente, gostou da música não porque viam Psy como um artista, mas porque “Gangnam” era divertidamente estranho.

O sucesso do BTS mostra que em apenas seis anos, o K-pop — e a visão americana sobre o K-pop — percorreu um longo caminho.

O que o BTS fez de diferente? Por meio das redes sociais, os integrantes do BTS foram capazes de ir contra alguns dos estigmas que permeiam os asiáticos que, no passado, podem ter atrapalhado a popularidade do K-pop nos Estados Unidos.

Pesquisas mostram que os ocidentais tendem a estereotipar asiáticos como uma massa coletiva e vaga que imitam o ocidente de forma robótica. Dão a eles as qualidades negativas do capitalismo — materialismo e competitividade desumana — enquanto subestimam a autoafirmação e individualidade asiáticos, que são qualidades validadas pelas sociedades ocidentais.

Mas, diferente de outros grupos de K-pop, o BTS fez mais do que aperfeiçoar suas coreografias e visuais. Eles também mostraram totalmente as suas personalidades.

Através das redes sociais, eles se conectaram com e cultivaram uma comunidade de fãs absolutamente devotados. No Twitter — em inglês e coreano — os integrantes dão aos fãs uma abertura para as suas vidas, se expressando e falando sobre assuntos importantes para os jovens, de saúde mental à autoimagem.

https://twitter.com/sugafull27/status/947500950964629505

“Está tudo bem se você não tem um sonho! Seja feliz no ano que vem! Você não precisa de um sonho para ser feliz!” — Min Yoongi, 2018.

Como um dos meus estudantes me disse, “os fãs sentem que enxergam os ‘verdadeiros’ integrantes e suas personalidades.”

A nova identidade global da Coreia

Não se engane, o BTS é um produto da Coreia. Seus integrantes são movidos pela mesma ética de trabalho que move milhões de jovens coreanos a se enfiarem nos livros em “hagwons”, os famosos cursinhos.

Mas o grupo também parece representar uma nova e mais confortável negociação da Coreia com as identidades globais que surgiram em anos recentes.

Em 1997, a Coreia passou por uma crise financeira. O país estava à beira de um colapso econômico, resultando em paralisações e demissões massivas. A crise, conhecida no país como “a crise do FMI” devido ao duro pacote de medidas que o Fundo Monetário Internacional (FMI) forçou a Coreia a aceitar, devastou muitas famílias.

Mas também levou a um programa de intensa globalização econômica e cultural, que abriu portas para investimentos externos, fez da Coreia do Sul o país mais conectado do mundo e expôs os coreanos a cultura e mídias globais.

Em contraste com os coreano-americanos ou os nascidos em Gangnam, de Psy, todos os sete integrantes são originários de cidades regionais como Busan e Gwangju. Nascidos de 1992 a 1997, eles são parte da geração que cresceu na Coreia do Sul na era pós-reformas do FMI que os expuseram à cultura americana e a língua inglesa desde o momento que aprenderam a falar e a andar.

Mais tarde neste ano, durante a participação do BTS no “The Ellen DeGeneres Show”, a apresentadora Ellen comparou o pandemônio que os recepcionou no aeroporto de Los Angeles com a Beatlemania.

No entanto, nos Estados Unidos, o BTS enfrenta duas barreiras que a banda britânica nunca teve que se preocupar: etnia e língua. A cultura popular americana tem um longo histórico de exclusão de asiáticos, e foram percebidas insinuações de racismo e xenofobia após a primeira vitória do BTS na Billboard, há um ano.

Pode ser cedo demais para dizer se o BTS estará à frente da “Invasão K-pop”. Mas fica claro que eles foram capazes de construir pontes e derrubar algumas das barreiras que impediam o K-pop de ser sucesso nos Estados Unidos.

Vimos isso durante o Billboard Music Awards quando, durante o discurso, o BTS agradeceu aos seus fãs — em inglês e em coreano.


Fonte; Susanna Lim @ Salon.com
Trans eng-ptbr; nalu @ btsbr

Artigos | por em 28/06/2018
Compartilhe:

Comentários:


This error message is only visible to WordPress admins

Error: No connected account.

Please go to the Instagram Feed settings page to connect an account.

Anúncio