[NEWS] Exibição “Love Your BTS” mostra que está na hora de levar fã-artes de K-pop a sério

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[NEWS] Exibição “Love Your BTS” mostra que está na hora de levar fã-artes de K-pop a sério

Há um lugar para o conceito de fã-arte dentro dos corredores sagrados da Arte com A maiúsculo? O Amino, uma plataforma móvel de rede social, parece pensar que sim.

Fã-arte é uma das facetas principais do fandom, na qual um interesse escolhido se torna o lugar comum de todas as mídias e habilidades artísticas. Esses trabalhos costumam ser vistos em artigos que viralizam, abrangendo desde posters de filmes desenhados por fãs, fusões de pokémons, até a admiração do Foo Fighters por fã-arte “estranha”. Mas os superstars do k-pop, BTS, por acaso possuem uma base de apoio muito bem articulada chamada ARMY, que alertou o Amino para as possibilidades artísticas do trabalho desses fã-artistas.

Agora que o K-pop está se tornando mais viável criticamente – com resenhas de artistas como BTS, IU e Day6 no Spin, The New York Times e até no Hyperallergic – a fã-arte de k-pop parece estar propensa a seguir essa mesma trajetória depois de ter ganhado sua própria exibição.

O Amino sediou uma exibição de fã-arte para o BTS na sexta-feira (13 de outubro) e no sábado (14 de outubro) onde se encontrava antes a Galeria Lisa Cooley, na cidade de Nova York. A exibição conteve aproximadamente 174 obras, selecionadas pelas redes sociais através da hashtag #Love_Your_BTS, “ame o seu BTS” em tradução livre, uma brincadeira com o último álbum do septeto, Love Yourself: Her.

O evento foi parte de uma iniciativa do Amino de trazer um milhão de ARMYs para a plataforma. O Amino é uma versão móvel do Reddit que facilita o uso de imagens, e que permite aos usuários construir suas próprias comunidades – o solo perfeito para cultivar a  participação do fandom. Fundada em 2011, a start-up é fruto do cérebro dos co-fundadores Ben Anderson e Yin Wang, os quais foram inspirados pelas convenções de fandom na vida real, como a Comic Con, que juntam pessoas com gostos parecidos. As maiores comunidades do aplicativo giram em torno de Pokémon, motos e, claro, BTS.

Até a quinta-feira (19 de outubro), o Amino dos ARMYs tinha estimados 640.000 membros, com quase 3.000 comunidades temáticas do BTS – incluindo aquelas mais especializadas em algum nicho, como memes, ships ou rpg – se espalhando através de 6 línguas diferentes pelo aplicativo.

A explosão de atividade do fandom impressionou muito no Amino. “Tivemos uma reunião no começo do verão, na qual nós imprimimos muitas fã-artes para dar para alguém, e emolduramos elas. E eu estava simplesmente maravilhado com o quão incrível essas coisas são” conta Tyler Pennel, representante de marketing do Amino, à Billboard pelo telefone. “Pensamos assim, ‘Nós queremos dar uma plataforma adequada para todas essas coisas maravilhosas e ter certeza de que haja um espaço para isso, que fã-arte seja respeitada da mesma forma que outros tipos de arte.’”

Então, a companhia se planejou para curar uma galeria dedicada à fã-arte dos ARMYs. O projeto foi liderado por Angie Cho, uma estrategista de marketing sênior no Amino, cujo trabalho incluiu criar arranjos para a flor “smeraldo” twittada por Jin (que aparece amplamente em teorias dos fãs à respeito de Love Yourself: Her), e organizar uma cabine de ‘Feliz Aniversário’, onde os fãs podiam escrever cartas ao vocalista e dançarino Jimin (cujo aniversário foi no dia 13 de outubro, a sexta-feira da exibição).

Apesar do foco em fã-arte já não ser convencional, o evento divergiu ainda mais das normas de exibições em galerias. “Love Your BTS” não foi tanto sobre apreciar arte passivamente, mas sim sobre ser uma experiência de fã completa. Festas com dança surgiram ao redor de um projetor, a popular YouTuber de K-pop Jessica Gullasch (conhecida como The Jess Lyfe) fez vlogs com convidados e uma quantidade absurda de fãs arruinou qualquer chance de se manter no seu espaço pessoal.

Mas o foco se manteve firmemente nas obras, as quais foram criadas através de diferentes meios. Pennell diz que o time do Amino usou “um olho curatorial” para garantir a diversidade de conteúdo dentre as fã-artes dos ARMYs.

A mostra tocou na variedade de fã-artes que enchem as plataformas das redes sociais online. “Eu vi tantas abordagens artísticas diferentes de conteúdo do BTS – como estudos anatômicos das coreografia, quadrinhos baseados em novas piadas internas feitas em programas de TV, até mesmo ilustrações inspiradas na renascença e baseadas em conceitos de comebacks como ‘Blood, Sweat & Tears,’” diz a fã-artista Alison Thng (@kkumrii no Twitter), cujo trabalho foi exposto no evento “Love Your BTS.” “Nós constantemente ganhamos novas perspectivas sobre as personalidades deles e inspirações visuais de photobooks e vídeoclipes, então adaptamos isso para fã-arte. Colocamos eles em novos universos alternativos a cada comeback apresentado.”


A própria Thng possui um estilo único, que reflete os interesses dela em animes como Haikyuu!! e Boku no Hero Academia, o que pode ser enxergado em sua peça enviada ao “Love Your BTS”, compartilhada no Twitter. Seu trabalho é adepto de moldar as características facias de V e JungKook para um estilo marcante de anime – e ela habilmente mistura cores quentes, no intuito de capturar a tonalidade avermelhada vista no clipe de “Not Today”.

Contudo, a forma mais comum de fã-arte é o retrato realista, de acordo com Gullasch, que atribui a popularidade dessa forma de arte ao desejo dos fãs de “retratar o ídolo como ele é”. Catarina Abrantes (que é @funsizedcat no Twitter), outra fã-artista exposta na mostra, diz que o realismo é popular universalmente. “Não é só na fã-arte,” ela diz, “pessoas de todos os lugares apenas gostam de ver desenhos que são tão parecidos com a coisa de verdade.” Esse desejo pelo realismo é parte do que faz um evento na vida real tão especial para os fãs, e particularmente para os artistas.

Na maioria das vezes, Abrantes aborda as características faciais dos integrantes do BTS por um ângulo realista, ao mesmo tempo os incorporando à arredores mais imaginativos. Seu retrato branco e preto de Jimin foi inspirado por um tipo de fotografia que sobrepõe duas imagens juntas. “Eu foquei no rosto de perfil dele, no qual ele parece meio calmo, porque eu acho que ele é um tanto reservado quando não está no palco,” ela diz. “Mas quando está no palco, ele comanda todo mundo a olhar pra ele. Por isso o holofote.”

Sua arte digital se transformou quando o Amino a remodelou em cópias físicas, emolduradas atrás de acrílico. Sendo um objeto físico novo, o reflexo das luzes da galeria contra o vidro adicionou uma dimensão tátil que enfatizou o conceito de Abrantes do holofote – o que é uma das maneiras pelas quais o aspecto desse espaço, de ser de fato “na vida real,” transforma fã-artes, originalmente digitais.

“Para nós, artistas digitais, quando vemos nossa arte impressa, é um sentimento completamente diferente,” diz Abrantes. “Porque só vemos ela na tela. Então quando olhamos ela no papel, na nossa mão, é incrível… Eu não sei porquê, mas a tela é como – faz a gente sentir como se estivesse separado da arte.”

A fã-artista Xiao Zeng (@fabxiao no Twitter), cuja fã-arte em aquarela esteve exposta na galeria, diz que as redes sociais abrigam um tipo de sobrecarga sensorial que desencoraja os espectadores a realmente apreciar arte online. “Ás vezes eu fico com um pouco de medo de entrar no Twitter, porque tem tanta coisa acontecendo lá, não consigo processar direito,” ela diz. “Então, tem vezes em que as pessoas estão olhando o Instagram, e elas só voltam rapidinho, elas nunca param e se demoram ali, olham para a peça digital.”

Thng diz que uma galeria física pode ajudar a combater a ideia de que fã-arte não é “arte de verdade”. “Esse tem sido um argumento corriqueiro até nos dias de hoje,” ela diz. “As comunidades de fãs estão mudando isso com exibições de fã-arte como ‘Love Your BTS’ e eu sou muito grata, porque algo assim ajuda a reforçar que o conteúdo artístico vêm em todas as formas e de qualquer inspiração.

O mundo da arte zomba do que é feito pelos fãs por algumas razões. Fã-arte é, por definição, referencial. Pessoas de fora do fandom podem não enxergar sua profundidade porque não entenderão alusões extremamente específicas, à exemplo da representação impressionista do clipe de DNA, feita por Zeng. De um ponto de vista crítico, fã-arte pode não ser vista como interpretativamente rica. A função primária dessa arte é expressar amor por um dado interesse, e isso é algo que não é amplamente visto como um valor artístico respeitável.

Abrantes diz que os espectadores subestimam o assunto da fã-arte porque este é visto como um derivado. “As pessoas online às vezes pensam, ‘Ah, você faz fã-arte, é porque você não tem imaginação, é porque você não tem personagens originais e tal,’” ela fala. “Fã-arte, no geral, é uma coisa bem presente na internet, mas ao mesmo tempo, estamos muito separados de todo mundo.” A super segmentação das comunidades na internet faz com que fã-arte dedicada ao BTS seja um fenômeno restrito em si mesmo, no qual o interesse pela arte é altamente dependente do interesse pela banda nela representada.

De fato, agora a principal coisa que parece diferenciar fã-arte de K-pop da aclamada arte de verdade é não ter as pessoas certas para a levarem a sério. Em uma reportagem do New York Times de 20 anos atrás, sobre quem decide quais trabalhos contam como arte, um crítico da época, Thomas McEvilley, disse ao jornal, “Agora parece bem claro que quase qualquer coisa pode ser chamada de arte. A questão é, a coisa foi chamada de arte pelo aclamado ‘sistema da arte?’ No nosso século, isso é a única coisa que faz da arte, arte.”

Mas a super segmentação da internet, de certa maneira, descentralizou o poder à muito tempo retido pelas elites do mundo da arte. A exibição “Love Your BTS” recebeu mais de 2.500 fãs ao longo de dois dias. O simples número de ARMYs no geral – o BTS é o ato coreano mais seguido no Twitter, com mais de 9 milhões de seguidores – pode se provar útil em legitimar a fã-arte do grupo. “O fandom do BTS hoje em dia – Eu aposto que é o maior fandom de K-pop que já existiu,” diz Zeng.

“Conteúdo feito por fãs une as pessoas, e os artistas se tornam capazes de expressar não apenas como eles veem as pessoas que admiram, mas também de incorporar elementos artísticos. Sendo esses a fim de adicionar mais mágica e emoção à profundidade infinita que a arte fornece numa tela,” reforça Thng. “Ter seu trabalho selecionado ou incluído numa exibição é algo te faz ficar muito grato, faz você perceber que a fã-arte pode dar um passo à frente, quando comunidades de juntam para fazer isso acontecer.”

E todos os fã-artistas que as Billboard entrevistou veem ter o espaço de uma galeria na vida real como algo que legitimiza a fã-arte. “Eu acho que isso definitivamente eleva a fã-arte a um outro nível,” diz Zeng. “Porque se você pensa em galerias, você pensa primeiro no MoMA (Museu de Arte Moderna) ou no Met (Museu Metropolitano de Arte), sabe, esses museus de alta-qualidade, com artistas renomados. Mas mostras em galerias evoluíram e mudaram ao longo dos anos, então eu acho que uma galeria de fã-arte é algo definitivamente aceitável. Se existe uma cultura, existe uma comunidade que vai apreciar a arte [vinda dessa cultura].”

 

Fonte; Billboard
Trans eng-ptbr; VenomQ @ btsbr

Artigos | por em 24/10/2017
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