Por que o The Guardian está sendo racista com K-Pop e BTS?

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Por que o The Guardian está sendo racista com K-Pop e BTS?

Como seres humanos, temos direito de gostar e não gostar de algumas coisas, e só porque algo está em alta no momento não significa que todos devemos concordar com aquilo.
Porém, quando uma publicação como o The Guardian publica um artigo claramente parcial e quase racista sobre o porquê de não realizar a resenha de um álbum, deve-se imaginar exatamente o que está acontecendo.
Recentemente, a principal crítica de rock e pop do The Guardian, Alexis Petridis resenhou o mais novo CD do grupo de k-pop BTS (Bangtan Sonyeondan), ‘Love Yourself: TEAR’.

Apesar da resenha em si não ter sido mais longa que um parágrafo, o artigo inteiro estava recheado de julgamentos preconceituosos e parcialidade contra qualquer coisa referente à k-pop, sem entrar a fundo no que o álbum realmente abordava.
Além de estereotipar BTS e seus fãs, ele também generalizou a audiência normal também.
Vamos ver algumas das áreas problemáticas dessa “resenha” (se é que pode ser chamada assim):

  1. Preconceitos internos do autor:

A maneira pela qual a resenha foi escrita demonstra extremo amadorismo,  preconceito e parcialidade incoerente, que o autor aparentemente tem contra k-pop e suas variações.
Fazendo piadas desonestas dos nomes em inglês das músicas do BTS, apontando os estereótipos da indústria de k-pop, ressaltando como os fãs não conhecem o idioma mas ainda cantam junto com seus ídolos e colocando grande parte do sucesso para seu alcance nas redes sociais.
E a linha, “você começa a se perguntar até que ponto tem a ver com a música” mostra em primeira mão o descaso do autor com a música do septeto.
Também, o uso de palavras como ‘estranho’, ‘diferente’, ‘alien’ mostram exatamente o que o escritor pensa do k-pop e, consequentemente, do BTS.
Isso automaticamente torna a resenha parcial e não objetiva, que deveria ser apenas sobre a música.

     

      2. Factualmente incorreta:

O artigo também parece ser factualmente incorreto em alguns pontos, o mais óbvio sendo quando o autor disse, “43 minutos de música disponíveis em 5 versões diferentes do CD”.

Existem apenas 4 versões, e não 5.

Também parece que o escritor não fez qualquer tipo de pesquisa sobre o grupo ou sobre os possíveis significados de músicas como Anpanman, que referencia o desenho animado japonês que é um super herói que não tem nada a ver com a ideia comum desse tipo de personagem. Seu corpo é mais redondo, com bochechas gordinhas, mas sua determinação em ajudar as pessoas é o que o diferencia dos outros heróis.
No mesmo estilo, Paradise, que o autor insistiu em chamar de música R&B para cantarolar, na verdade aborda como está tudo bem viver sem um sonho em mente. Na sociedade competitiva dos dias de hoje, aprendemos que é necessário ter um sonho e lutar por ele, mas a música trata de como é perfeitamente normal não ter um sonho em específico e viver uma vida considerada ordinária.

  1. Generalização dos fãs

Diversas vezes ao longo do texto o escritor parece estar generalizando os fãs de BTS ao sugerir que são obsessivos, intrometidos e irão seguir cegamente qualquer comando dado pelo grupo coreano.

Ele também parece não perceber a conectividade do mundo atual ao dizer: “As razões tradicionalmente dadas ao sucesso do BTS em sua terra natal – suas letras são livres dos problemas padrão de k-pop, que costumam ser superficiais e controversas – não se aplicam no ocidente: não consigo imaginar adolescentes britânicos que estão aflitos para ouvir sobre críticas juvenis das convenções sociais na Coréia do Sul.”

Isso automaticamente assume, em primeiro lugar, que um adolescente britânico está disposto a viver apenas em sua bolha e não ser consciente do que está acontecendo ao redor do mundo. E em segundo lugar, deixa implícito que somente adolescentes seriam fãs de BTS quando, na verdade, isso foi provado como errado diversas vezes, na medida em que a demografia dos fãs de BTS é variada em idade, gênero, raça, religião e cultura.

legenda: o meio de comunicação GAON recentemente soltou dados sobre a demografia dos fãs de BTS. A “área cinza” é referente à BTS enquanto a laranja se trata de outros grupos de k-pop.

 

Além disso, o autor parece constantemente assumir que as músicas do BTS giram em torno de seu lugar, quando isso não chega nem perto da verdade. Esse argumento está eticamente incorreto, já que não se pode simplesmente afirmar que uma pessoa da Inglaterra não irá se importar com problemas na Coreia do Sul quando a verdade é que eles estão ocorrendo em todo lugar.
Tópicos como depressão na adolescência, suicídio e outros problemas similares são tópicos globais e o autor dizer que não é errado em níveis éticos e sociais.
 

 Assim como dito pelo artigo do Washington Post, depressão em adolescentes subiu em 33% entre os anos de 2010 a 2015, enquanto tentativas de suicídio aumentaram em 23%. O número mais assustador é o aumento de 31% em suicídios cometidos por pessoas na faixa de 13 a 18 anos. Também global, de acordo com o relatório da OMS, houve um aumento de 18.4% entre 2005 a 2015, de pessoas vivendo com depressão, o que totaliza quase 322 milhões de pessoas. Na Índia, a taxa de depressão na adolescência assim como dito pela OMS afirma que 1 a cada 4 crianças entre as idades de 13-15 sofrem de depressão e a taxa estimada de suicídio entre pessoas de 15-29 anos na Índia está em assustadores 35.5%. Até mesmo no próprio Reino Unido, a taxa de ansiedade e depressão subiram quase 70% nos últimos 25 anos, o que não é exatamente um número muito saudável.

Problemas como depressão na adolescência e suicídio são fenômenos globais e não apenas limitados à Coreia. Então não é questão de onde o jovem está, se é na Inglaterra, Índia, EUA ou Coreia do Sul, ou de entender os sofrimentos da sociedade sul coreana. É aí que músicas como 2! 3! basicamente inspiram as pessoas por meio de letras que dizem que se você está passando por algo difícil, está tudo bem, feche os olhos e conte até 3 e depois siga em frente. Essa música tomou forma de hino que o grupo escreveu para seus fãs. Ela também encoraja apoio e empatia ao pedir ao outro que segure sua mão e ria em vez de ficar triste.

Suas músicas e conceitos são únicos na medida que se aplicam de forma universal, juntando homens de meia idade, mulheres na casa dos 20 anos de idade e crianças de 10 anos e os transformando em fãs. Sua campanha em colaboração com a UNICEF ‘LOVE MYSELF’, em prol da diminuição da violência contra crianças e adolescentes dá uma perspectiva global ao seu álbum “Love Yourself”, então não se pode simplesmente dizer que uma criança na Inglaterra não se importa com o que está acontecendo na Coreia.

Hoje, se Taylor Swift e Charlie Puth são um fenômeno global é porque foi extremamente fácil para eles chegarem nesse ponto, levando em conta que os Estados Unidos são um superpoder e seu alcance é muito maior.

Mas, vindo da Coreia do Sul, além de ser um pequeno grupo de k-pop, e se tornar um fenômeno global não é fácil e mostra como que existe algo além de sua presença nas redes sociais e “cores de cabelo neon” para seu sucesso.

Esse nível de efeito abrangente não pode ser atingido se não estão falando de algo que as pessoas podem se identificar.

Apesar disso, deve-se dizer que uma resenha tão amadora e racista não era algo esperado de uma publicação do nível do The Guardian.

Sendo uma leitora assídua do meio, eu esperava que teriam padrões melhores do que deixar passar uma resenha de um album que nem sequer aprofunda nos detalhes das músicas ou tema do álbum.

Devo ressaltar que este artigo não é porque a resenha não foi positiva, e francamente, eu teria respeitado mais o autor se ele tivesse entrado mais em detalhe no porquê o álbum não foi bom o suficiente. Levando em conta a variedade de gêneros, letras e composições, haviam diversos fatores que poderiam ter sido discutidos.

Contudo, a resenha foi mais um exemplo de retórica parcial e desvalorização dos fãs e grupo, e uma pequena parte se referindo à verdadeira resenha do álbum.

 

Fonte; ED Times
Trans eng-ptbr; fer @ btsbr

Artigos | por em 22/06/2018
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