O ‘exército’ de admiradores do BTS: Por dentro de um dos fandoms mais poderosos do mundo

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O ‘exército’ de admiradores do BTS: Por dentro de um dos fandoms mais poderosos do mundo

Michelle Quinde é uma grande fã do BTS.

Quando o último álbum do grupo sul coreano foi lançado em abril, ela comprou o CD mesmo sem ter um CD player. Quando o BTS veio aos Estados Unidos, em maio, ela foi a todos os seis shows do grupo no país. E quando o novo single do BTS, “A Brand New Day”, foi lançado, em junho, ela fez o stream da música constantemente por um dia inteirinho.

Quinde, uma estudante de 24 anos de design gráfico da cidade de Nova York, é uma das milhares de fãs que investem seu tempo e dinheiro apoiando seus ídolos.

Conhecidos como ARMYs (Adorable Representative MC for Youth), o fandom global do BTS de leais seguidores é poderoso o suficiente para criar grandes tendências — e ajudar o BTS a quebrar os recordes da indústria musical.

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Alguns ARMYs, como Quinde, escutam as músicas repetidamente para aumentar os números de streams do BTS no YouTube e sites de streaming.

Os ARMYs ajudaram o BTS a quebrar recordes globais de engajamento no Twitter, se uniram por grandes causas, fazendo arrecadações e doações financeiras, plantando árvores em nome do BTS. Eles até compraram um outdoor na Times Square, em Nova York.

E — o mais importante para os fãs do BTS — os ARMYs contribuíram para fazer do BTS uma das maiores boybands do mundo.

Mas quem são os ARMYs — e porque eles são tão dedicados?

Junte-se ao clube

Ser ARMY é fácil: você só precisa gostar do BTS.

Desde o começo, o BTS se conectado com os ARMYs online. Já que não tinham o apoio de conexões pessoais e financeiras que as grandes empresas possuíam, a empresa do BTS, Big Hit Entertainment, teve que contar com as mídias sociais.

Essa conexão criou um tipo de afinidade entre os fãs e o grupo, contribuindo para sua popularidade. No Twitter, o BTS é o grupo de K-Pop com o maior número de seguidores.

Alguns fãs podem também pagar cerca de 30 dólares (aproximadamente R$125) para se tornar um membro do fã clube oficial, que garante acesso prioritário a ingressos e desejos de aniversário escritos a mão do BTS. Mas se alguém viola as regras do fã clube oficial — como embarcar conscientemente no mesmo voo que o grupo — ela pode ser expulsa.

Não é tudo um mar de rosas, contudo; Ser um ARMY dedicado — seja oficialmente ou não — pode significar ter muito trabalho.

Além de seus 3 trabalhos de meio período, Quinde ainda era responsável pelo site de uma fanbase.

Todos os dias, ela investia horas conversando com outros fãs em aplicativos de mensagem como o Slack, planejando tudo desde hashtags para o aniversário de Jin, como pensando em como os fãs poderiam ajudar o BTS a conquistar um Grammy.

Ser responsável pela fanbase era “incrível”, mas também um trabalho cansativo, disse Quinde. No momento, ela está afastada das demandas do fandom, já que ela percebeu que há outros fãs ajudando o BTS também. “Eu posso meio que descansar tranquila”, ela disse. “Eles estão em boas mãos”.

O poder do streaming

Para muitos ARMYs, suas responsabilidades são simples: fazer streaming das músicas e vídeos do grupo o maior número de vezes possível, para que seus ídolos permaneçam no topo dos charts musicais.

Antes do lançamento de um novo álbum ou single, a parte coreana do fandom ARMY, os K-ARMYs, dividem e conquistam, lançando a lista de músicas para fazer streaming. Os dedicados ARMYs buscam telefones de amigos e familiares, além de entrarem em diversas contas para otimizar suas habilidades de streaming.

BTS chegando no Tapete Vermelho da K-CON de 2014, no Los Angeles Memorial Sports Arena, em 10 de agosto de 2014.

Sempre que o BTS lançava um novo álbum, Lee Siwon, de 22 anos, postava uma aviso no aplicativo de mensagens KaKao Talk, muito popular na Coreia do Sul, dizendo que ela não poderia atender à ligações ou checar mensagens porque ela estaria muito ocupada fazendo streaming das músicas do grupo.

“Eu ativei todos os meus celulares antigos e também os de familiares para fazer streaming das músicas”, disse Siwon. “Eu sentia que eu e o BTS éramos inseparáveis, então isso me fazia tentar ainda mais para que eles fossem bem sucedidos”.

Park Semi, K-ARMY desde 2016, têm deixado o MV de “Boy With Luv” tocando todos os dias pelos últimos 5 meses. Na maioria das vezes, ela nem mesmo está assistindo — tudo pelo número de visualizações no YouTube.

Lee Siwon no Estádio de Wembley, no Reino Unido.

“Eu acho que todos os K-ARMYs estarão fazendo o mesmo”, ela disse.

Entre os K-ARMYs, um print com o número de streams que você fez é considerado uma medalha de honra, uma prova do quão dedicado você é. Semi já fez isso: “Eu já fiz stream de músicas antigas do BTS mais de 20 mil vezes”

Envolvimento da empresa

Os esforços de ARMYs como Semi e Siwon surtiram efeito.

O BTS conquistou o prêmio de Top Social Artist do Billboard Music Award por três anos consecutivos. Seu último álbum, Map of the Soul: Persona, se tornou recentemente o best seller de todos os tempos na Coreia do Sul, com mais de 3.3 milhões de cópias vendidas. E uma de suas músicas, “Boy With Luv”, garantiu ao grupo o recorde de maior número de visualizações em menos de 24 horas no YouTube, com a incrível marca de 74.6 milhões de views.

Mas nada disso aconteceu a mando da empresa do BTS, a Big Hit Entertainment. A empresa foi responsável pela estratégia de marketing baseada no uso contínuo das mídias sociais e simplificação do processo de se tornar parte do fã clube oficial dos ARMYs, mas eles não exigem streaming constante.

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Entretanto, a Big Hit tem a sua contribuição. Antes dos shows, a empresa aprova as mensagens e frases que os fãs irão escrever em seus banners e cartazes.

Existem regras específicas durante os shows na Coreia. Os fãs não podem cantar — o público quer ouvir o grupo, não a platéia. Contudo, eles podem participar durante os fanchants: partes específicas das músicas designadas pela Big Hit, durante o show. Em shows fora do país, contudo, alguns fãs vão além e acompanham as músicas do grupo durante a apresentação.

Fãs do BTS posando com fotos dos integrantes do lado de fora American Music Awards de 2017 que aconteceu em 19 de novembro, em Los Angeles, California.

Um exército fervoroso

Nos últimos anos, alguns fãs internacionais do BTS começaram a aproveitar a histeria envolvendo o grupo para fazer o bem.

Erica Overton, de quase 30 anos e natural do Brooklyn, ficou “Fascinada pelo poder dos fãs”, e se perguntou se haveria algo mais substancial do que os hits do YouTube ou outdoors de Nova York.

Em março do ano passado, ela fundou o projeto “One in an ARMY”, um grupo de fãs no Twitter que reúne doações de ARMYs para serem destinadas a projetos de caridade. Os integrantes do projeto estão espalhados por diversos países, como EUA, Canadá, Suécia, Malásia, China, e Arábia Saudita, segundo Overton.

Uma fã tirando fotos das fotos de Jin que estavam na estação de metrô de Hongdae em 2 de junho de 2018, em Seul. Alguns fãs colocaram as fotos no local em comemoração ao aniversário de 5 anos de debut de Jin e do BTS..

Em um de seus primeiros projetos, o “One in an ARMY” arrecadou dinheiro para a ONG “Thirst Relief”, que providencia água potável para famílias na Tanzânia. Overton disse que os fãs doaram o suficiente para comprar 30 filtros de água, que ajudariam cerca de 300 pessoas a ter água potável pelos próximos 25 anos.

Projetos como o “One in an ARMY” são uma consequência natural de ser um fã do BTS, disse Oberton. “Eles se esforçam muito se doando para nós, nos dando suas músicas e sinceridade… os ARMYs querem apenas retribuir em nome deles”.

Quando a onda muda

Por mais que a devoção dos ARMYs possa ser usada para o bem, ela também pode ter tendências negativas. 

Alguns ARMYs são altamente sensíveis a um possível desdém  — e muitas figuras públicas já sofreram com a fúria dos ARMYs por conta disso.

Por exemplo, quando um apresentador de TV australiano apresentou o BTS, em junho deste ano, como “a maior banda que você nunca ouvir falar”, os ARMYs foram até as redes sociais imediatamente para acusar a rede de televisão de racismo e xenofobia. Por fim, a rede emitiu um pedido de desculpas.

BTS durante seu showcase de debut em 15 de junho de 2013, em Seul.

Lee explicou que, por conta dos ARMYs acreditarem que seus ídolos são perfeitos, eles acabam se sentindo afrontados por qualquer crítica percebida. “Nós não pensamos apenas logicamente, mas também em conjunto”, ela disse.

“Eu acho que a cultura de fandom tem algumas similaridades com a religião. Nós não conhecemos os integrantes do BTS pessoalmente, mas nós acreditamos no que vemos, mesmo que apenas as melhores partes estejam sendo mostradas. É um caso de ‘eu acredito que meu ídolo é perfeito, então quem você acha que é para me fazer desacreditar nisso?’”.

Já Quinde, por exemplo, não tolera a forma como essas críticas acabam gerando uma onda de tweets maliciosos. “Eu não gosto quando as pessoas fazem isso… as pessoas cometem erros.”, ela disse. “Nós deveríamos explicar quem o BTS é… mas esses comentários acabam se perdendo no meio dos tweets maliciosos”.

O que dá poder ao fandom

Desde que o BTS fez seu debut, em 2013, há uma relação simbólica entre eles e os ARMYs.

Como a Big Hit não era uma das “big three” (as grandes empresas de K-Pop à época), eles eram vistos como oprimidos, e contavam com as redes sociais. Isso atraiu fãs — e conforme encontravam suas músicas e videoclipes, eles descobriram as histórias elaboradas que o BTS criou com seus MVs, falando sobre questões sociais.

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Esses vídeos deram aos fãs muito material para os fãs “trabalharem e tentarem decodificar”, fazendo dos ARMYs um fandom não muito diferente daquele que acompanhada a série de TV “Lost”, disse Michelle Cho, professora do departamento de estudos do Leste Asiático na Universidade de Toronto.

Para o BTS, os fãs são a maior razão por trás de seus sucesso. E como resultado, o grupo agradece os ARMYs em todos os shows e cerimônias de premiação, por ajudá-los a chegar onde chegaram.

Cho diz que essa ideia de reciprocidade coloca o BTS em um patamar diferente dos grupos de pop ocidentais. “Eu acho que é uma mistura muito potente”, ela disse. “Você não é apenas um fã do BTS, você tem que passar por um processo de iniciação, e então é ‘sugado’ para esse mundo.”

Fãs do lado de fora do estúdio na Times Square, em 26 de setembro de 2018, quando o BTS iria se apresentar.

Isso foi verdade para Tahne Howard, estudante de 18 anos do Reino Unido, que se viu tão dentro do mundo do BTS, que começou a sonhar com eles. Ela encontra apoio na mensagem do grupo de “amar a si mesmo”  — e deixa comentários e suas lives, esperando que eles notarão sua existência.

Ela não vê os integrantes do BTS como deuses  — mas ainda assim, é pessoal.

“É como se eu fosse pais orgulhosos que veem seus filhos crescendo”, disse Howard. “Nós os ajudamos a ser quem eles são agora, e ainda bem, eles são gratos pelo que nós fazemos”.

Fonte: Hilary Whiteman e Eugene Jun @ CNN

Artigos | por em 17/10/2019
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