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Espectadores ao redor do mundo estavam colados nas suas televisões e laptops tarde da noite/cedo na manhã de domingo, 20/21 de maio, para o Billboard Music Awards 2018 (BBMAs), um fenômeno anual que vem apresentando encantadoras performances ao vivo, celebrando diversos gêneros musicais e premiando artistas aclamados desde os anos 1990. Embora seja um evento muito esperado todos os anos, desde 2017 a animação aumentou para os fãs do grupo coreano BTS (Bangtan Sonyeondan/Garotos à prova de balas).
Esse ano musical viu os sete garotos — um grupo já conhecido por desafiar expectativas e escrever a verdadeira história de desfavorecidos — chegarem a fama de maneira chocante, determinando e quebrando seus próprios recordes com múltiplas músicas, MVs e o seu álbum mais recente, ‘Love Yourself 轉: Tear’. Em 2017, o BTS foi o primeiro artista coreano a ganhar um prêmio da Billboard, o Top Social Artist (com um recorde no Guinness World Record pelo número de engajamentos no Twitter), destronando Justin Bieber de um lugar que ele ocupava há quase seis anos consecutivos.
Este ano, no entanto, foi um pouco diferente. O BTS não só ganhou novamente o prêmio (com uma margem de 94% e outro possível recorde no Guinness com mais de 42 milhões de votos em 24 horas), eles também foram os primeiros a estrear um álbum em um palco americano. Eles, portanto, se tornaram o primeiro artista coreano a se apresentar no BBMAs.
O sucesso da apresentação abalou por muitos dias — celebridades ocidentais conhecidas notando o seu talento e veículos de mídia se perguntando quem esses sete homens são, conquistando a fanbase mundial global. Entretanto, estar nos holofotes também traz atenção que não é tão positiva.
O fenômeno K-pop sempre foi sujeito à retóricas racistas, tanto de forma sutil quanto em ataques descarados. Assim, o exponencial crescimento de popularidade de um boy group asiático (particularmente um que teve dificuldades para chegar ao topo, mesmo em seu país natal) criou espaço para ainda mais olhares críticos.
Sua fama crescente trouxe com ela uma quantidade alarmante (e provavelmente injusta) de ceticismo. Com, por exemplo, as audiências ocidentais incapazes de entender como e por quê músicas em outra língua podem, possivelmente, capturar os corações e as mentes de pessoas ao redor do mundo.
Isso se traduziu na transformação da narrativa ao redor do sucesso do grupo, fazendo parecer que eles são um fenômeno ‘fora da curva’, sua fama feita por seu público predominantemente feminino (chamadas ARMYs). Embora isso não seja algo ruim (o grupo já disse várias vezes que tem orgulho das suas fãs), a atenção excessiva que a mídia ocidental dedica aos ARMYs parece sugerir que o BTS é famoso apenas por causa de seus fãs.
O BTS é pintado como algum tipo de fenômeno de um só sucesso, sem substância alguma. Ademais, a frequente rotulagem de seus fãs como “loucos”, “intensos”, e mesmo “raivosos” e “perigosos”, é um insulto não somente ao grupo mas também às incontáveis pessoas (especialmente mulheres, pessoas LGBTQ+ e minorias étnico-raciais) cuja lealdade inabalável vai além da aparência física do grupo.
A figura da “fã enlouquecida” é comumente usada para denotar artistas baseado na suposição de que se um artista possui uma base de fãs que são, em sua maioria, mulheres, provavelmente lhes falta substância. Como se mulheres e meninas jovens somente fossem capazes de formar conexões superficiais e exageradas com as mídias que consomem.
Essa suposição é um esteriótipo prejudicial que implica que meninas e mulheres são incapazes de tomarem decisões informadas sobre as pessoas que escolheram idolatrar, e também completamente desnecessária, uma vez que a fanbase do BTS constantemente promove a profundidade do seu trabalho e ideias. É, também, um argumento incrivelmente machista, comumente usado contra as mulheres para invalidar suas preocupações válidas.
Enquanto suas fãs continuam amando o BTS por suas letras pessoais e empáticas e louváveis produções musicais (o grupo produz e escreve suas próprias canções), a imagem pública divulgada por ‘pessoas do contra’ é de que elas são meramente um bando fascinado por um grupo, levando-os adiante superficialmente. Isso é um insulto não somente aos fãs mas também ao trabalho duro que esses artistas dedicam em suas carreiras.
Isso não significa que o apreço das ARMYs é algo ruim. O próprio grupo já declarou como tudo que eles conquistaram teria sido impossível sem os fãs, e que, definitivamente, foi a popularidade nas redes sociais que apresentou suas músicas para o mundo. Não há como negar que a atenção, que este último álbum recebeu, é uma grande conquista para o grupo.
Muito da atenção que eles vem recebendo é de natureza positiva, com grandes críticos, como o Pitchfork, lhes dando notas objetivamente altas, como 7.1, e veículos de notícias falando sobre o quão significativo o trabalho do BTS é. Então, talvez, é esperado que o positivo também traga uma atenção questionável.
A maneira com que algumas pessoas (famosas ou não) vêm tratando os garotos, como veículos para a fama, como acessórios para se posar junto e sorrir sem nem mesmo saber seus nomes — são claros indicadores de que o BTS está tendo sucesso e as pessoas estão se sentindo ameaçadas por isso.
E, na verdade, uma das perguntas mais comuns que eles recebem é de qual artista ocidental eles gostariam de fazer uma colaboração. Ao mesmo tempo que esta é uma boa pergunta quando feita com respeito e curiosidade, ela pode, às vezes, se tornar uma insinuação feia de que o BTS precisa de colaborações para se tornar relevante. Eles também recebem com frequência a pergunta de quando eles irão lançar um álbum em inglês, ou interagir com os fãs em inglês, apesar deles estarem escrevendo em sua própria língua e não devem ter que mudar pelos outros.
Curiosamente, suas colaborações [até agora] vem sendo com minorias étnico-raciais, o que é uma tentativa de dar autenticidade para as culturas que criaram os gêneros [musicais] com que eles experimentam. Ademais, a maior parte das celebridades ocidentais que vem dando atenção genuína ao BTS e ao seu trabalho são minorias étnico-raciais — pessoas que sabem como é enfrentar racismo e preconceito na indústria musical do ocidente.
Mas o que há para se sentirem tão ameaçados? O BTS é um grupo que constantemente questiona o que é considerado a norma. Em casa, na Coreia, isso foi feito através da demonstração de diversidade musical em uma indústria conhecida por ser homogênea, ao espalharem consciência social e quebrarem recordes locais com isso (apesar de virem de uma empresa pequena, que não lhes deu privilégios). No exterior, fazem isso ao desafiar a figura de masculinidade tóxica (eles são confortáveis em demonstrar suas emoções, usar maquiagem, experimentam com a moda) e ao aumentarem as expectativas acerca do que é esperado em apresentações.
A falta de aceitação de minorias raciais e étnicas na arena musical do ocidente — especialmente asiáticos, que permanecem severamente pouco representados apesar de fazerem parte do maior continente do mundo — diz muito sobre a xenofobia e as noções pré-concebidas que as pessoas têm no hemisfério ocidental.
Por exemplo, o BTS e sua gravadora sentiram a necessidade de silenciar palavras de suas letras (naega, que significa “eu” em coreano — uma unidade básica de discurso) porque se preocuparam que pessoas que desconhecem a língua poderiam entendê-la como a “N-word”, e não quiseram ofender ninguém.
Ao mesmo tempo que essa premeditação reflete uma incrível sensibilidade por parte do grupo, também fala muito sobre uma audiência que não se mostra disposta a pensar além da sua própria língua, e o trabalho que sofre em resultado disso. Até mesmo alguns dos artigos escritos sobre o BTS, ou o seu álbum, claramente refletem a propensão interna em favor dos críticos. Sem mencionar que, nas redes sociais, os insultos com que os fãs precisam lidar são de natureza incrivelmente racista.
O fato que se mantém é que o BTS está aqui para ficar. Depois de quebrar recordes de vendas de álbuns na Coreia do Sul, as previsões dizem que devem chegar ao primeiro lugar da Billboard 200 (um feito louvável que irá impulsionar a representação asiática na indústria musical) e já esgotaram os ingressos para os quatro shows que farão no Staples Center, em Los Angeles. É só questão de tempo até que a mídia e celebridades percebam que essas conquistas não são meramente devido às fãs “loucas por meninos”.
Talvez seja exatamente por isso que é tão importante que eles cheguem a uma posição confortável no topo — para mudar a maneira com que as pessoas pensam sobre artistas e músicos de minorias étnico-raciais. As pessoas normalmente comparam o fandom do BTS ao dos Beatles — talvez seja hora de lembrar que alguns dos maiores músicos da história sempre tiveram fãs “loucas” e que foi com o amor e o apoio dessas fãs que suas discografias mudaram o jogo e entraram para a história.
Fonte; Pallavi Varma @ Feminism in India
Trans eng-ptbr; nalu @ btsbr
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