A importância do BTS no amor próprio, e seu papel fortalecendo amizades 💜

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A importância do BTS no amor próprio, e seu papel fortalecendo amizades 💜

Toda semana, a sessão The Friendship Files traz uma conversa entre Julie Beck e dois ou mais amigos, explorando a história e significado da relação entre eles. Essa semana, Julie entrevistou duas fãs do grupo sul-coreano, BTS, para entender como conhecer o BTS reaproximou as duas amigas, e como a música as ensinou a serem emocionalmente abertas.

Essa entrevista foi editada e teve algumas partes cortadas, para melhor entendimento.

As amigas

Haley Samsel: 22 anos, editora no Security Today, vive em Plano, no Texas.

Anna Villa: 22 anos, enfermeira, vive em Plano, Texas.

Julie Beck (JB): Como vocês se conheceram?

Anna Villano (AV): Nós somos melhores amigas há 15 anos. Fomos colocadas na mesma sala no ensino fundamental e também fazíamos parte das mesma aula extra-curricular. Como uma aluna do fundamental, meu pensamento foi: vou fazer amizade com uma pessoa conhecida. Minha primeira ideia, por alguma razão, foi perguntar a ela qual era seu animal preferido. Meu animal preferido naquela época era a zebra, e surpreendentemente, o dela também. O resto é história.

Na escola, nós éramos como unha e carne. Eu lembro de sempre arranjar um jeito de ficarmos juntas nas atividades extra-curriculares e tudo o mais.

Haley Samsel (HS): Anna e eu amávamos ficar juntas. Ela acabou entrando para o jornal da escola só porque sabia que eu queria entrar também. [Nós sempre pensávamos que] “Nós precisamos garantir que teremos uma aula juntas para podermos sobreviver ao ensino médio.”

JB: O que vocês gostavam de fazer no ensino médio?

HS: Acho que sempre tivemos muitos interesses em comum. Foi isso que nos uniu no começo, de zebras à música, e—

AV: Basquete.

HS: Nós amamos basquete. E eu também era bem nerd, então muita gente não gostava de me ouvir falar sobre a coisa que eu estava obcecada naquela semana. Mas Anna gosta mesmo de ouvir as pessoas falarem sobre o que elas amam, mesmo quando ela não se interessa pelo assunto. Eu estava obcecada por movimentos de direitos civis e em história americana. E ela apenas ouvia e dizia, “Estou feliz por você estar animada com isso.”

Haley (esquerda) e Anna (direita) no ensino fundamental (Foto de: Haley Samsel)

JB: Anna, você também é assim? Tem algo que você se interessa muito?

AV: A Haley faz parecer que só ela era assim. Mas quando eu gosto de algo, eu sou totalmente dedicada a isso. Sempre encorajo as pessoas a ouvirem o que eu estou ouvindo no momento. Haley sempre apoiou os meus interesses, não importa o quão ridículos eles eram, tipo a minha fase apaixonada por One Direction no ensino médio. Ela tinha as músicas deles em suas playlists também, porque ela queria compartilhar isso comigo. Sempre tem algo novo que nós acabamos descobrindo uma pela outra.

JB: Depois do ensino médio, vocês se distanciaram um pouco. O que aconteceu?

AV: A vida. Haley se mudou para Washington, então nós não conseguíamos nos ver com tanta frequência como antes.

HS: Eu fui estudar na American University.

AV: E eu fui para uma faculdade comunitária aqui em Plano. Eu estava tentando entrar [no curso de] enfermagem. E cerca de um ano depois de nos formarmos no ensino médio, minha mãe foi diagnosticada com leucemia, e Haley estava longe. Nós ainda nos falávamos por telefone, mas ter 18 anos e não entender a verdadeira gravidade de suas emoções em uma época de constantes mudanças… foi difícil. Acredito que tenha sido mais difícil para Haley entender como eu estava me sentindo. Eu também não queria despejar tudo em cima dela, porque eu sei que ela também estava lutando com seus próprios problemas. E o fato de estarmos estudando foi só mais um fator que contribuiu para a distância.

HS: Eu fui bem próxima da família da Anna a minha vida toda. Fui praticamente criada por meus avós e minha mãe, porque meu pai não era muito presente. A família da Anna era tão acolhedora. Eu estava lá em todos os eventos de família. Tenho tantas fotos minhas em eventos católicos filipinos: uma garota ruiva e branca na foto.

AV: Nós temos fotos com toda a minha grande família em um ambiente, com a pequena Haley lá também.

HS: Foi bem difícil para mim sair de Plano, porque eu senti que estava saindo da minha zona de conforto ao deixar a família dela. E então a mãe dela faleceu em novembro de 2016. Esse foi provavelmente o período mais difícil, de novembro de 2016 a novembro de 2017.

Haley (segunda à direita) comemorando a Páscoa com Anna (à direita) e sua família. (Foto de: Haley Samsel)

O interessante sobre amizades quando se é mais velho, é que você tem que descobrir como ir de somos amigos porque nos vemos na escola todos os dias para o que quer que a amizade entre adultos seja — o que eu ainda estou tentando descobrir. No nosso caso, nós não sabíamos como lidar com todas essas situações emotivas, ou como compartilhar todas essas emoções com outras pessoas. Nós nunca fomos muito abertas emocionalmente. Nós já tínhamos falado sobre sobre minha depressão, mas apenas superficialmente.

AV: Nós não falamos [sobre ela] em detalhes.

HS: Foi tipo o diagnóstico da mãe dela. Nós não entramos em muitos detalhes sobre o assunto.

AV: E era difícil para mim falar com outras pessoas, porque nem eu sabia direito o que eu estava sentindo.

JB: Como tudo isso afetou a amizade de vocês durante a faculdade?

AV: No começo da faculdade, nós conversávamos todos os dias. Eu acho que o Messenger do Facebook era o aplicativo que mais usávamos. Nós falávamos sobre os artigos que a Haley estava escrevendo e coisas do dia-a-dia. Era conversa fiada, não íamos a fundo no que estávamos sentido de fato. Eu não senti que nossa amizade estava enfraquecendo ou coisa do tipo — era uma constante. Mas ela não era tão completa quanto agora, eu acho.

JB: E, recentemente, gostar do grupo de K-pop BTS foi o que completo a amizade de vocês.

HS: Em novembro de 2017, Anna me mandou uma mensagem no Facebook, como sempre. Ela disse, “Por favor, cuide disso,” e me mandou um vídeo de dance practice do BTS. Ela estava basicamente me dizendo, “Não ria de mim por gostar disso. Isso é importante para mim. Espero que você assista ao vídeo e goste deles.”

AV: Eu escuto música a minha vida toda. Eu já ouvi músicas de Bollywood, música filipina, bachata, tudo. K-pop foi um gênero totalmente novo que eu estava disposta a explorar. Mas foi muito fácil me “afundar” no mundo do BTS. Eu estava muito animada para contar a Haley sobre eles. A partir daí, acho que nós nos arrastamos para “dentro do buraco”.

JB: Vocês podem me dizer um pouco mais sobre o grupo e porquê vocês gostam deles?

A primeira conversa de Anna e Haley sobre o BTS (Imagem por: Haley Samsel)

HS: O BTS é uma boyband sul-coreana formada por sete integrantes. A maioria de suas músicas é cantada em coreano, mas elas também tem trechos em inglês. Eles incorporam muito de hip hop e da música pop, e são, definitivamente, inovadores no gênero. De alguma forma, o grupo se encaixou com todos os nossos interesses. O que fez Anna se interessar por eles foram as apresentações. Eu era uma estudante de relações internacionais na AU, então já estava interessada em tipo, “Essa música está em uma língua diferente. O que está acontecendo com a cultura coreana?”

E nós gostamos muito das letras. Acho que, no pop e o hip hop americanos, você é geralmente atraído pela batida, e com o K-pop, as pessoas se atraem pelo som. Mas as letras são tão mais profundas do que o que eu escuto no pop americano atualmente!

AV: Eles são muito poéticos, é difícil descrever [as letras] a menos que você realmente as procure. Eles são tão auto-reflexivos.

HS: A mensagem deles também é importante — eles pregam pelo amor próprio, tentando fazer as pessoas pensarem mais sobre saúde mental, e sobre não serem tão duras consigo mesmas.

AV: Tudo o que eles falaram me tocou, especialmente porque eu estava muito perdida após a morte da minha mãe. Eles têm letras tipo as de “You Never Walk Alone”. Em suas músicas, eles discutem sobre saúde mental, reconhecendo suas próprias emoções, e entendendo que outras pessoas se sentem dessa forma também. O BTS sempre enfatiza que eles estão aqui por nós, seus fãs. É uma conexão profunda entre artista e fã que eu nunca senti antes.

JB: Vocês fazem parte do fandom do BTS? Qual a vibe dos fãs?

HS: O nome do fandom do BTS é ARMY e, entre os ARMYs, as pessoas falam sobre como eles encontraram o BTS em um momento de suas vidas que eles realmente precisavam. Um momento em que você está por baixo. Para mim, foi quando todos os meus amigos foram estudar fora. 

Anna e eu conhecemos o BTS em novembro. Então quando eu voltei para casa nas minhas férias de inverno, perto de dezembro, nós “perdemos a cabeça” juntas. Em janeiro, eu já tinha uma conta no Twitter dedicada a eles. 

AV: Haley e eu criamos nossas contas no Twitter para o BTS ao mesmo tempo.

HS: É tão mais fácil de se conectar com o fandom dessa maneira, porque você precisa de traduções para realmente entender o que está acontecendo.

AV: E os integrantes do BTS são muito ativos no Twitter também.

JB: Muitas fãs que falam inglês e coreano traduzem os conteúdos sobre o grupo quando eles são lançados?

HS: Exatamente, sim.

AV: Nós temos as notificações das contas deles e das de tradução no Twitter ligadas, então quando eles postam algo, nós recebemos avisos de tudo ao mesmo tempo.

HS: Quando você fala isso em voz alta, parece um absurdo.

AV: Soa meio absurdo, mas isso nos permite nos conectarmos com o BTS mais facilmente. Os ARMYs são incríveis.

JB: Vocês já fizeram outros amigos ARMYs?

AV: Antes de ter minha conta no Twitter dedicada apenas ao BTS, eu usava minha conta pessoal para compartilhar todas as coisas sobre o BTS, porque, como eu disse, eu amo música. Então as pessoas que me já me seguem, pessoas próximas a mim no ensino médio, viram esse conteúdo. [Algumas pessoas] vinham falar comigo e, depois de um tempo, fiz boas amizades. Agora nos seguimos com nossas contas dedicadas ao BTS, e saímos juntos. Nós fomos ao show do BTS juntos. Eu provavelmente nunca mais teria falado com ninguém do ensino médio se não fosse pelo BTS. E agora, essas pessoas são minhas melhores amigas.

JB: É o fandom em geral, e o ato de gostar da mesmas coisas, que ajuda as pessoas a se aproximarem, ou há algo de especial no BTS que fez isso por você de um jeito que nada mais faria?

HS: Eu acho acho que os fãs de K-pop são mais dedicados porque [gostar de K-pop] exige que você gaste tempo e energia para procurar traduções, por exemplo. Eu vou realmente ver esses vídeos. Vou mesmo esperar pelas legendas em inglês. Você tem que gostar mesmo para fazer tudo isso.

Acredito que tenha algo de especial no BTS. Eles juntam tantas pessoas diferentes, e dão a elas a oportunidade de olhar para além do preconceito com a barreira linguística, para além do que eles acham que esse tipo de música é, e apenas ver o mundo com outros olhos. Eu sinto que sou uma pessoa completamente diferente depois de ter entrado nesse fandom.

AV: É muito divertido acompanhar artistas como o BTS e outros do gênero do K-pop porque, comparados aos artistas ocidentais, eles lançam conteúdos novos constantemente. Eles fazem com que ser fã seja tão fácil, porque você consegue ver o quanto eles se importam com seu trabalho e com seus fãs.

HS: No que diz respeito à cultura do fandom, é diferente porque eu sei que se alguém ama o BTS, essa pessoa pelo menos tem uma mente aberta para ouvir algo “fora do comum”. Ela está disposta a gastar tempo e energia para entender o que o K-pop e a cultura coreana representam.

JB: Como foi quando vocês começaram a gostar do BTS e se reaproximaram? Vocês só conversavam sobre o BTS, no começo, ou já voltaram com aquela “energia” de antes desde o início?

HS: Acho que nós meio que “voltamos de onde paramos”. Não falamos só sobre o BTS. Anna e eu temos umas 60 conversas diferentes ao mesmo tempo. Eu acho que a maiora dos melhores amigos vão entender isso — você está trocando mensagens, está no Messenger do Facebook, no Instagram, no Twitter, trocando e-mails. Nós tentávamos ter conversas sérias sobre algo que acontecia em nossas vidas mas, ao mesmo tempo, eu mandava memes do BTS para ela.

AV: E eu ficava tipo, “Nós estamos tendo uma conversa séria agora. Você está mesmo me mandando isso?”

HS: O que realmente ajudou a reatar nossa amizade foi quando começamos a fazer esse “clube do livro” toda semana.

JB: Explique sobre isso.

Haley (esquerda) e Anna (direita) em mensagem de vídeo sobre o BTS (Imagem de: Haley Samsel)

HS: O BTS lançou uma série no YouTube Premium chamada Burn The Stage.

AV: Era um documentário sobre a turnê que eles tinham feito no ano anterior.

HS: A cada semana, nós falávamos sobre um dos episódios. E isso levou à, “Vamos falar sobre o que está acontecendo em nossas vidas.” Eventualmente, eu comecei a fazer notas no meu celular sobre as coisas que aconteciam comigo para contar à Anna no nosso “clube do livro” toda semana.

JB: Por que o nome “clube do livro”?

AV: Sabe como os clubes de livros se encontram para contar sobre o que eles leram durante a semana?

JB: Sim, tipo um “clube do vídeo”.

AV: Mas eu só chamei de “clube do livro” mesmo. Todas as quartas-feiras, ás 9 da noite, depois de eu ter terminado todas as minhas aulas e Haley ter saído do trabalho.

Um marco para mim em nossa amizade foi quando a notícia do falecimento do Anthony Bourdain foi divulgada. Me afetou muito porque eu cresci assistindo ao Anthony Bourdain com a minha mãe. Eu fiquei devastada. Eu disse, “Olha, sei que o clube do livro não acontece até daqui alguns dias, mas eu realmente preciso falar com você agora.” Eu liguei para Haleu, e nós tivemos uma longa e boa conversa sobre nossos sentimentos. Então eu fiquei bem emotiva, e fiz uma postagem no Instagram sobre isso, porque eu estava tão feliz de ter Haley como minha amiga.

Aquele dia não mudou muita coisa, apenas me garantiu que Haley sempre estará presente para eu poder conversar sobre qualquer coisa. Honestamente parece que eu estou sozinha, pensando em voz alta, e meu cérebro está me respondendo. Nós estamos quase que fisicamente conectadas.

HS: Só para esclarecer, a série Burn The Stage tinha apenas sete episódios ou algo do tipo. Então o clube do livro virou tipo um, “Nós precisamos conversar.” O último ano foi duro, porque nós estávamos entrando na vida adulta. Você está tentando entender tudo, Para onde eu vou agora? Como eu compartilho essas situações com pessoas que não entendem completamente o que eu estou passando? Especialmente no caso da Anna, com o luto e a perda de um dos pais. Muitas pessoas na nossa idade não sabem como responder a essas situações. Isso foi algo sobre o que conversamos muito: “Como eu lido com a reação dos outros? E se ela não for a reação que eu esperava?”

AV: E qual reação eu quero mesmo?

HS: E agora, há tantas notícias sobre preconceito racial, de gênero e intolerância religiosa. Acho que nenhuma de nós nunca falamos sobre as experiências que pessoas negras passam, ou que ásio-americanos têm. O BTS está desafiando muitos desses estereótipos, principalmente em relação a asiáticos e, especificamente, ao homem asiático. Então nós realmente começamos a pensar sobre, “O que são todos esses estereótipos asiáticos, e como isso está afetando a vida da Anna?”.

JB: É interessante, porque eu sinto que no começo da nossa conversa você estava dizendo, “Por um bom tempo em nossa amizade, nós não éramos tão abertas emocionalmente”. Mas pelo que você descreveu agora, parece que vocês estão tendo conversas muito inteligentes e abertas sobre o assunto. Isso foi algo que mudou para você? O BTS está envolvido nisso de alguma forma?

AV: A forma como eu e Haley conversamos faz com que tenhamos mil e um assuntos. Eu não estou exagerando quando digo que nossas conversas duram pelo menos três horas. Quando nós estávamos fazendo o “clube do livro”, a primeira meia hora era sobre o episódio. E então ficávamos tipo, “Ah, você viu no Twitter como essa pessoa estava falando sobre o BTS desse jeito?” E então falávamos sobre como isso se relacionava às nossas vidas. Uma coisa leva à outra.

HS: Nós já sabemos muito sobre a vida uma da outra. Acho que, porque nos conectamos tão fortemente com a música [do BTS], a melhor pessoa para compartilhar tudo isso era a pessoa que já sabe boa parte da sua vida.

AV: O BTS abriu as portas, nos presenteando com uma oportunidade de conversarmos mais. Nós conversávamos sobre eles e suas mensagens. Eles são tão honestos com sua música e sobre seus sentimentos, e isso me encorajou a falar mais sobre o que eu estava sentindo, conversando sobre com outras pessoas.

HS: Os fãs geralmente dizem “Essa banda salvou a minha vida”. O BTS nos fez perceber que nós temos que salvar a nós mesmos. Nós temos que começar a nos conectar com nosso interior, e a falar mais com os outros sobre o que realmente está acontecendo em nossas vidas, senão não conseguiremos seguir em frente.

Fonte: The Friendship Files @ The Atlantic

Artigos | por em 29/07/2019
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