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O discurso do BTS na Assembleia Geral das Nações Unidas pode ser entendido como o passo seguinte do soft power coreano: tomar conta do mundo, um país e um super artista por vez
No dia de abertura da Assembleia Geral da ONU, o grupo de K-Pop mais popular do mundo, BTS, subiu ao pódio e discursou para uma sala cheia de burocratas e líderes mundiais. Normalmente conhecidos por seus visuais ousados e inspirados pelo hip-hop, os sete integrantes vestiram ternos pretos discretos, enquanto o líder, RM, falou por seis minutos e meio sobre o trabalho do grupo com a UNICEF, para a qual eles arrecadaram mais de 1.1 bilhão de wons (US$ 986.000) durante o último ano.
Ele também comentou sobre a mais nova iniciativa da UNICEF para a educação e treinamento de jovens, “Generation Unlimited”, e encorajou a audiência a falar sobre o que pensam e a amar a si. “Não importa quem você é, de onde você é, a cor da sua pele, sua identidade de gênero – apenas fale por si mesmo”, ele disse. “Encontre seu nome e encontre sua voz, fale por si”.
Em um encontro no qual a comunidade global discute sobre mudança climática, multilateralismo e manutenção da paz, a pergunta de todos era qual o lugar do K-Pop nas questões internacionais.
Pode parecer bizarro que uma boyband perfeita, criada por uma indústria conhecida por seus ídolos super manufaturados e altamente reprimidos – senão oprimidos – daria um discurso sobre auto-estima e identidade na ONU. Mas o BTS não é qualquer grupo de K-Pop. De acordo com seus fãs por todo o mundo, eles são um dos poucos que ousam ultrapassar limites na Coreia do Sul, onde suas canções e declarações tratam de grandes tabus sociais incluindo suicídio, abuso e direitos LGBTQ+.
“Em sua música, eles cantam sobre temas controversos como auto estima e saúde mental”, comenta Tessa Ariella, uma estudante da Yonsei University na Coreia do Sul, e diz que o BTS é também muito grande na Indonésia, seu país de origem. “O BTS é diferente de outros grupos, eles alcançam a todos.”
Enquanto o gênero vem crescendo na última década, o BTS é um dos poucos grupos de K-pop que atingiram a massa na América do Norte. De várias formas, os Estados Unidos representam o santo graal para estrelas de K-pop, como um mercado inexplorado e por conta da credibilidade recebida quando adentram este ramo, de acordo com Jenna Gibson, uma expert em K-pop e estudante de pós-doutorado em Relações Internacionais na Universidade de Chicago.
O problema sempre foi a barreira linguística. Muitos grupos, incluindo Girls’ Generation, Wonder Girls, e até o PSY – que não conseguiu repetir seu sucesso com Gangnam Style – não conseguiram adentrar no mercado estadunidense. “Tudo mudou com o BTS,” Gibson diz. “O BTS fez um grande sucesso nos últimos anos trabalhando muito dentro dos Estados Unidos. Eles fizeram pequenos shows, passaram tempo construindo uma base de fãs norte-americana, e se dedicaram a procurar o sucesso no país de baixo para cima”.
Com sua relativa sinceridade – pelos padrões sul-coreanos – ao abordar a vida e as dificuldades, além de seu grande esforço em divulgação e estratégias nas redes sociais (o grupo tem mais de 16,5 milhões de seguidores na sua conta super ativa do Twitter), a recente aparição do BTS na ONU demonstra como a nova era do soft power do K-pop acontece para além da Ásia.
“Na Coreia, com seu índice de suicídio extremamente alto e o grande nível de desesperança entre os jovens devido ao desemprego e a competitividade da sociedade coreana, o BTS está tentando fazer a diferença em seu alvo demográfico – pessoas jovens,” afirma Cedar Bough Saeji, um pesquisador de pós-doutorado na University of British Columbia’s Korean Foundation. “Trabalhar com a ONU é uma continuação lógica a isso”.
As músicas e declarações do BTS tratam de tabus sociais importantes, como suicídio, abuso e direitos LGBTI
Soft power é sobre atrair o público estrangeiro a ser mais interessado no que seu país tem a oferecer, diz Gibson. “K-pop é a principal ferramenta de soft power da Coreia, porque é apresentado em coreano, e é fundamentalmente coreano de muitos jeitos. O K-pop tem o poder de fazer os fãs quererem aprender mais sobre a música, sobre a indústria, e sobre o país de onde isso vem.”
O K-pop inclusive ajudou a fazer do idioma coreano a última moda em algumas improváveis partes do mundo. Em uma pesquisa com 20 mil fãs de K-pop na Algéria no último ano, 93% dos entrevistados afirmaram usar palavras e gírias coreanas no seu dia-a-dia, de acordo com um relato do Quartz.
“Existem muitos estudos documentando como o K-pop e outros produtos culturais, como os dramas, auxiliaram no crescimento do turismo na Coreia e no aumento de estudantes de coreano”, comenta Gibson.
O K-pop tem mais potencial de soft power do que a música pop estadunidense, porque vem com menos bagagem colonial e política, diz Saeji. “O K-pop vem de um país pequeno, o qual a maioria dos países do mundo sabem muito pouco sobre, um país que nunca foi colonizador e nunca fez guerras em países vizinhos,” ela conta. “Ele pode ganhar ou perder nos seus próprios méritos e atrair jovens não porque sabem sobre a Coreia, mas porque os elementos coreanos no K-pop são novos, originais e – de um modo que a cultura pop americana nunca poderia ser – neutros”.
Mesmo assim, enquanto a visão de estrelas asiáticas do pop altamente subordinadas, aventurando-se na diplomacia ou política mundial, pode parecer surpreendente, o soft power único desses artistas não é estranho à diplomacia regional asiática.
As menções populares do político japonês Shinjiro Koizumi sobre o grupo TWICE enquanto discutia sobre um aumento de trocas culturais entre o Japão e a Coreia do Sul, em janeiro, provocou feedbacks positivos em ambas nações.
JPN Politician Mr Shinjirō Koizumi said they should increase the exchange of culture and art between the two countries (JPN & SK)
He also mentioned about TWICE who appeared on NHK Kouhaku last year and is really popular in Japan and there are 3 JPN members in TWICE#트와이스 pic.twitter.com/eR66U5vzwA
— SK (@SubjectKpop) January 29, 2018
[TRAD] “O político japonês Sr. Shinjiro Koizumi disse que eles deveriam aumentar a troca de cultura e arte entre os dois países (Japão e Coreia do Sul). Ele também mencionou o Twice, que apareceu, ano passado, no Kouhaku da NHK e é bem popular no Japão, tendo três integrantes japonesas no grupo TWICE”.
Tais tentativas não são imunes ao criticismo, no entanto. A visita do grupo japonês AKB48 à Tailândia e a apresentação privada para o Primeiro-Ministro Prayuth Chan-ocha, transmitida aos cidadãos pelo Facebook (havendo críticas sobre uma tentativa do líder militar de ganhar apoio da juventude), é um exemplo não muito bem recebido.
Uma coisa que todos concordam é que os ídolos, em muitas formas, são diplomatas perfeitos. “Devido ao seu treinamento, eles são muito cuidadosos em frente a câmeras e tendem a ter um comportamento perfeito em público. Isso faz deles ótimos para oportunidades fotográficas,” fala Saeji.
Nas relações coreanas, estrelas do K-pop já tiveram uma grande participação nos dois lados. Da propagação em alto volume das canções de Girls’ Generation através da fronteira demarcada – uma atividade que provocou muita ira da Coreia do Norte, e que foi recentemente interrompida por causa da melhora das relações – até as recentes apresentações de grupos sul-coreanos como Red Velvet, Ailee e ALi em Pyongyang, especialistas dizem que a música pop tem ajudado e muito a normalizar a relação entre as Coreias.
“Considerando que a própria esposa do Kim Jong-un foi parte do famoso grupo de pop norte-coreano Moranbong Band, um grupo criado pela diretiva do governo para ser usado para propósitos nacionalistas, não é surpreendente ver Moranbong Band e Red Velvet… Como parte dessa tentativa de aproximação,” afirma Saeji. “Essa nova incorporação positiva do K-pop na reaproximação é ainda muito nova… Quem sabe o que o futuro vai trazer.”
É fácil desprezar o K-pop como bobo, fraco e frívolo, adiciona Gibson. “Esses artistas de K-pop vão mudar o curso da paz na península coreana? Com certeza não. Mas seu envolvimento na diplomacia é um grande medidor de pressão das relações inter coreanas,” ela argumenta. “O poder de atração pode ser uma ferramenta muito poderosa na política internacionais se a Coreia do Sul utilizá-la sabiamente”.
Fonte: South China Morning Post
Trad eng-ptbr; clau @ btsbr
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